segunda-feira, 28 de maio de 2012

I know I know I know


“I know I know I know, you’re still my love. The same as Iove you, you’ll always love me too. This love isn’t good unless it’s me and you.”

[Tegan and Sara] 


Uma carta pra você-que-fez-tudo-errado. Meu bem, me diz: como foi que você chegou aqui? Aqui, eu digo, em mim, porque isso de “aqui” é um tanto quanto inalcançável pra nós, condenados a essas coordenadas distantes. Não me foi exigido um cômodo vago, nada de solicitações. Houve, sim, um amor invadindo qualquer espaço mínimo com um resquício qualquer de ar, uma espécie de alojamento imediato e, no fim das contas, bem vindo. Pioneirismo seu, que me apresentou amor. Não sabia lidar, deixei entrar, roleta russa que me acertou o peito. Outra dimensão dos verbos, outros alcances pros advérbios. Você mudou a semântica em mim. E a gente segue assim: se achando em tudo enquanto não pode se encontrar. E a gente segue assim: encontrando a calmaria na nossa tempestade particular. E a gente segue assim: se revirando pelo avesso pra redescobrir aquela já enferrujada certeza na qual se apoiar. Então eu te amo como ouço minhas músicas preferidas: com fones de ouvido. Te amo com fones pra sentir cada nota, entender cada junção que faz nascer o acorde. Te amo com fones pra não deixar que o ar me tome um detalhe sequer, pra não deixar que banalizem a nossa trilha sonora. Te amo com fones porque sinto ciúmes, porque não divido, porque nada jamais foi tão meu assim. Mas, ei, era mesmo pra ser uma carta? É, uma carta pra você-que-fez-tudo-errado e me deu o amor mais certo. Te amo como a vida me ensinou o melhor do amor. Te amo com o melhor que há em mim. Já não há quem duvide: a realidade sobrepôs a fantasia. Ele canta pra gente e mexe comigo “I think I love you better now”. Deixo de ser só pra ser dois em nós.

domingo, 22 de abril de 2012

Said and Done



“It had never ocurred to me that our lives, so closed interwoven, could unravel with such speed.”

[Never Let Me Go]       
                                                                  
Lembro de quando você me pedia palavras, baby, falava que merecia um texto. Merecia sim. Mas é agora, em nosso tempo quase póstumo, que eu sento pra nos repensar. Não existe presença, no máximo uma saudade comportada que grita na minha janela vez ou outra e senta tímida no canto, de castigo.

A gente se olha e não se vê. A gente só se reimagina com aqueles olhos de passado de quando chegamos a ser coisas bonitas. Há um par de anos escrevi “Somos um fardo. Dois fardos. Grandes, mas leves. Ou até pesados, mas podemos nos aliviar, dividir o peso. Emagrecer em conflito e então respirar”.

Tive medo ao descobrir ser feliz sem você e perceber que podia abrir mão de toda a felicidade que sempre soubemos fazer. Tive medo de nos transformar em uma ausência presente, de nos lembrar em saudades inconvenientes. Tive medo também de nos converter em presenças ausentes, daquelas que sobra corpo, mas falta alma.

Lembra de quando ela cantou no show e você me olhou? Ouve agora, aumenta o volume. Eu tive que deixá-lo ir, mas mesmo que eu não mais esteja, lembre que me ouviu dizer o quanto me importei e o que eu senti. Fui embora por vontade e também por vontade não voltarei, por isso agora tento economizar em palavras pra não gastar as memórias falhas.

Sempre nos considerei rabisco transformado em poesia, mas de repente me parece que a poesia regrediu e viramos redação clássica ensinada.  Hoje em dia usamos vírgulas, respeitamos a margem, somos contidos, nutrimos pudores entre nós.  E muros. Muros! Acredita? Antes éramos lar, baby, sem pressa.

Ninguém soube me desvendar como você. Ninguém prestou tanta atenção nos detalhes, nas estranhezas, nas particularidades. E eu não quis romper bruscamente com o passado, mas o tempo chega, agressivo, e leva as coisas pra longe – dizem que longe é quase um esquecimento.  Não precisamos nos lembrar sempre, mas o que fomos não foi feito pra esquecer.

As descidas na ladeira pediram por freios, a rapidez da parada nos capotou. Tropeçamos com os passos em câmera lenta, dá pra entender? O acidente foi grave. Só sei que continua estranho precisar de lupa pra enxergar um passado enorme. Foi desconfortável nos reduzir por necessidade. Você disse “Rápido como veio, foi”. Sabemos – como canta a banda que você me apresentou  em cantorias com o nascer do sol – meu bem, tudo mudou.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

This Is The Beginning


“Open the boxes, unpack what you own. Hang up some posters and make this a home. Walk down the stairs and open the door, look at the things you’ve never seen before. This is the beginning of anything you want.”
[Boy]

Enclausurada numa penitenciária de liberdade extrema que não me atava a absolutamente nada. Algemas por ser avulsa, seria trágico se não fosse cômico. Avulso: arrancado à força, desligado do corpo ou da coleção de que fazia parte, desirmanado, solto. Presa por ser solta demais? É, presa por engano. Nunca me igualei àqueles xiita contra o amor, mesmo no meu período mais anti-romântico. Eram só memórias frescas demais e a primeira fase da negação e isolamento pós-luto, amor morre também
A teoria faz de tudo uma burocracia, mas pode-se dizer, apelando à conceitos leigos e um tanto quantos relativos, que a minha ficha criminal não é lá extensa. Nada que vá além de um pequeno furto de expectativas ou omissão de socorro à la "Summer - Tom", nunca tive paciência.
Sabe, nunca consegui fazer questão de miniaturas, mas em anos outros cheguei a querer que tudo fosse um resquício do passado. Procrastinei e reconsiderei a cada demonstração de vitalidade do que tive, mas seria respiração artificial, eu sabia. Não queria reinventar história, queria era inventar amor. Nos 16, fui primavera. Nos 17, inverno. Nos 18 e 19, verão. E agora, no outono dos 20, a história é outra.
Dobrei, rasguei, apaguei, contornei. Cansada de acumular, deixei tudo escorrer. Touché, acertei! Afinal nada é mais desagradável que o ceticismo absoluto, amargura não funciona desde o byronismo. Então fiz de mim quem acreditei merecer ser. Sem melancolia e também abrindo mão da razão que sempre me dominou. Quero sentar à margem e tocar na água. Ponta dos pés, pernas, mergulho, correnteza. Eis a sequência do perigo – e da felicidade - que a gente percorre, consciente ou não.
Nem foi preciso ir embora, só soube aprender quando não estar mais perto de tudo que ficou pra trás. Eu voltaria sim, se achasse que flashback de alegria fosse possível, mas hoje duvido da capacidade do passado de me fazer feliz. Não quero mais lembranças que sufoquem possibilidades. Não quero só começo e fim, quero durante.
Dizem que o vinho mais caro não serve quando a sede é de água, então o ontem deixa de servir se a vontade é de futuro. Escolho a loucura que é recomeçar por um bloco de notas já tendo à disposição uma biblioteca vasta de literatura clássica. Dessa vez vou investir num lançamento, prólogo contemporâneo, mas nada de ficção.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Unobstructed Views



And I think you need to stop following misery’s lead. Shine away, shine away, shine away. Isn’t it time you got over how fragile you are, we’re all waiting, waiting on your supernova. Cause that’s who you are and you’ve only begun to shine.”
[Anna Nalick]

Entre as duas que sou, entre as muitas que fui, por todas as vezes que renasci…Sempre fui difícil. Pouco papel pra muita escrita. De alguma maneira hermética, muito silêncio, pouca confissão. Mas ouvi dizer que ninguém sabe dos desejos de um mudo, então faço disso um decreto: ando farta da procura por doses mais fortes, exausta de complexidades cansativas. Eu, relógio inverso, tiquetaqueando. Eu-não-vítima, eu-homem-bomba, ferida por meus ideais tortos.

Escrevo como vivo, um pouco cega e quase secreta. Uma cegueira seletiva, veja bem, só fecho os olhos pro que desinteressa – maioria, devo assumir. Até porque essas condutas clássicas nunca me atraíram, esses conceitos tradicionais nunca me ganharam. E não é rebeldia, não, é l-i-b-e-r-d-a-d-e. Essas bobagens todas aquarianas, porque no fundo talvez eu acredite um pouco nessas de astrologia, minha razão sempre teve uns vacilos.

São vontades muitas, plurais, incontáveis. Em grande parte impronunciáveis até. Mas é que nunca tive disciplina exemplar, provavelmente culpa de algum tipo de sombra selvagem que me habita e perpetua esses desejos que se atropelam. Só que aprendi a respeitar a sinalização com toda aquela monotonia de direção defensiva, sei hoje posicionamento de via e não atravesso pro lado que não me pertence.

Se acelerei demais, foi pelo desafio, pelo perigo, por vaidade. Quando eu quis, se quis – e quase nunca tão demais - foi por encanto momentâneo. O que eu quero, hoje, se projeta em meu norte, num futuro emoldurado pendurado na parede do que tem que ser. E não sei, mas nessa parede não tem mais a foto de ninguém…. Se eu me perdi? Prefiro dizer que ainda não me achei. Ninguém precisa acelerar coisas tão naturais, prefiro guardar com carinho o vazio pra alguém que vai chegar. 

O que sei é que os tropeços do caminho fizeram de mim uma preguiçosa no amor, falta esforço ou fé. Não soube como reabilitar o quebrado, nunca quis consertar o danificado, deixei ir. Já o certo nunca dispôs de magnetismo suficiente, ironia descabida. Calada por questão de discrição, parada por ausência de encanto. Procurando por algo que valha o tempo, que justifique o sorriso. Um clímax que dure. Peço imensidões e recebo essas pessoas-poças, rasas. Não dá pra mergulhar, não dá pra se afogar, não dá. E nunca fui de aceitar personagem de narrativa linear.

Hoje parece que a felicidade precisa de atalhos, o caminho usual é sujo, mal cuidado. Hoje o bonito se entorta pra viver. Vou me entortando. Vezes desacreditada, outras incrédula, mas com a arrogância de quem confia em si, continuo minhas linhas. Escrevo pra mim, sempre foi assim. E quando simulo desistência é cinismo. Nunca me permiti pausa no epílogo, quero desenvolver. Então tenho perdoado o atraso, afinal talvez o amor tenha perdido um lado do sapato por aí e é óbvio que não pega bem uma primeira impressão desleixada. O que ele não sabe é que eu aprecio a simplicidade, acho bonita a leveza dos pés no chão. 

Dezembro passa e eu penso em botar uma meia na janela: não quero a magnitude de um lustre, só a mágica de um pisca-pisca que me acenda. Que venha descalço, pisando em estrelas e com a profundidade de um oceano.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

There She Goes Again



Start new when your heart is an empty room with walls of the deepest blue. (...)  And all you see is where else you could be when you're at home, and out on the street are so many possibilities to not be alone. The flames and smoke climbed out of every window and disappeared with everything that you held, dear. And you shed not a single tear for the things that you didn't need, cause you knew you were finally free.”

[Death Cab for Cutie]

 Eu sabia que seria definitivo. A gente sabe quando é a última vez, é o que dizem. Não quis prorrogações, melhor de três, revogação. Não quis que tu continuasse me prendendo naquele andar conhecido, com aquele cheiro mesclado que eu - tentei me convencer no depois - nem gostava tanto assim. Porque foi ali, no retângulo fechado, que me perdi pra ti. Mas, ah, tu nunca vais saber. Nunca vais saber a proeza que foi ter me tido daquele jeito. Eu te vejo ainda nas ruas, em fotografias, em saudades que só chegam depois das 23. Eu te vejo, mas não te olho. Faz sentido? Não que tenhamos feito algum dia, e sei que foi a teimosia o meu precipício. Reconheci em ti o brilho errado que me atrai. Ainda que sem acreditar, sabendo-me incapaz de confiar, fiquei. E ficaria de novo mesmo tendo que ir embora outra vez.

Egoísta que sou, não mergulhei na tua vida, não perguntei dos antecessores, não me interessei pelos teus ontens. É que quem tem passado sabe o peso dele e evita. Eu tenho. Só que contigo quis um presente bonito, e tive. Nunca quis futuro, desculpa se não fui capaz de acreditar em nós. Mas te quis. Muito e quase evidentemente, não fosse eu atriz premiada. Largado no meu sofá, deitado na minha cama, te quis em todo lugar. Com aquelas provocações baratas seguidas por olhares cínicos que evidenciavam os cílios. Não tivéssemos sido inibidos, abortados, quase sujos, poderia até ter sido lindo. Teríamos sido lindos e longos, mas repletos de falhas, porque não fomos feitos pra durar.

Alguma coisa em ti me deixava vazia, alguma coisa em nós não me preenchia. Faltou esforço. Mas tu quiseste me prender; eu cigana, imigrante. Tu quiseste me prender e isso não me espanta, mas eu quis ficar, e isso me assusta. Não por culpa tua, mas por displicência minha: deixei. E quando eu inventava razões pra ir, era só porque queria negar as imensidões que eram minhas vontades desvairadas. Quis a ti errado, perigoso, insuficiente, rápido. Fui artista e fui mentira, mas te querer foi a verdade impronunciável. Te quis fácil, mas não exclusivamente. Te quis madura, mas nem assim sabiamente. Tu de volta pra vida, eles de volta pra mim. Nada que eu não pudesse adivinhar, logo pra nós, que o mistério costumava engolir.

Precisei escrever pra assumir que andei inquieta, não sou de negar. Precisei escrever porque parei de simplificar as complexidades, parei de te visitar sem bater na porta, parei de tentar entender a falta de lógica que nos arrebatou. Larguei. Precisei escrever hoje pra dar tchau, porque não dói mais nem ao som das minhas versões acústicas. Pra agradecer pelo que foste, pelo que trouxeste, pelo que me devolveste. Escrevo agora como quem vomita, já não guardo nada. Obrigada, mas vai. Sem presenças ou ressurreições verbais. Que vá embora, que seja ido, que seja sem volta. Que tudo mude, se já somos nada além de lembrança morna. Que tudo recomece e comece por mim.

sábado, 29 de outubro de 2011

Hold Still




"I think I love you like a car crash, dear. I don't want your wreckage but I find I cannot steer my eyes away now […] And maybe I'll taste you in another time and place. You look so good, I bet you taste like something sweet. But hell is overflowing and there's no way of knowing: If I give up heaven for one moment, will I get it back?"

[Anna Nalick]

Difícil é não saber o que fazer com essa fé nem tão inabalável que ainda tenho em mãos, em nós. De que serve te trazer comigo se não posso te levar a lugar nenhum? Ouço uns barulhos, sinto umas estrelas e até consigo ser toda feita de céu pra te prender. Só que não funciona, não funcionamos. E então passo a ser capaz de umas friezas inimagináveis, de umas omissões monumentais. Mas, ei, onde e como se escondem coisas-monumentos? Grandes demais, escapolem de mim.

Tínhamos uma série de acordos subentendidos selados em silêncios dos mais tagarelas. Mas de repente rompemos, porque não pedi que ficasses, tampouco aceitei tua volta. Ignorei tuas vozes e pedidos, ainda que com o coração trincado para, enfim, me libertar desses pares de anos pesados, e nem tão passados assim. Nós nos juramos a eternidade sem perceber que o calendário é extenso demais pra essas unidades exclusivas. Só que a gente sempre se cuidou como quem espera o amanhã, e fiz teu o meu futuro, indubitavelmente. Então que a tua nudez de máscaras não me intimide. Que tuas verdades difíceis não me machuquem. Que teus direitos exigidos não me sufoquem. Que minhas desconfianças não te ofendam. Que meus silêncios não te doam. Que minhas excentricidades não te espantem.

Sabe, nem sei do que somos feitos. Quem sabe de pedaços pequenos de tudo que é eterno ou mesmo daquelas coisas que terminam sempre só pra recomeçar com mais força. Tu ainda nos guarda aí dentro? Nem precisa ser tão dentro, lá no fundo, aceito também morar na flor da tua pele ou em qualquer lugar. Porque hoje em dia não sinto mais essas paixões, só esse amor fácil dos que aprenderam a esperar. Aprendi. Mas já não espero com aquela devoção enorme de antes, o que é uma pena. Aprendi a te tirar do centro de mim pra viver de verdade, foi preciso.

Me pergunto como é que se adia o amor de uma vida inteira. Tento te explicar que o agora ainda não é nosso, mas teus ouvidos nunca foram bons em escutar minhas racionalidades, esperando e preferindo sempre as brechas do passional. Nunca coubemos no espaço da compreensão. Então deixe estar. Deixe, que logo estaremos. Sãos, sós. Mais sós que sãos, se sempre insanos. Insana eu, sei que tu vais argumentar sobre minhas noites avulsas, doses excessivas, mas é que são esses nossos intervalos. Preciso viver enquanto te espero. O problema é: e se a gente não se achar mais? E se nossos encontros nunca mais forem em par? Às vezes acho que a gente se perde de graça. Tu vais embora e eu não vou atrás. Eu esqueço, tu lembras; tu desistes, eu volto. Mas eu te disse o que alguém disse e concordo: “se eu for amor daqui e tu fores daí, talvez sejamos paz em todo lugar.' Me pacifica?

Quieta, mas inquietamente é como ainda te espero aqui.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Turn Me Round




“Would you reach out for tomorrow or try to turn back time? … Can you live in your skin? Walk in your own shoes? You can’t win if you don’t know how to lose. These open arms will wait for you. Crawl, fall, try, you gotta learn how to fly, these open arms can pull us through between what’s left and left to do.”
[Bon Jovi]
Só quero o recomeço de tudo, ainda que isso finde minhas eternidades planejadas. Porque ninguém guarda os fatos, ninguém memoriza os dados, tudo passa como o que não chega no fundo almejado. Hoje já não existem cartas, apegos, hesitações. E essas coisas inexistentes todas são, sim, embalos de rede. Não existem, mas acalmam, porque qualquer não-peso, pra mim, é leveza. Mas me falta o mistério na vida, me sobra a independência fajuta como escudo. Nunca mais me perdi dentro do que acreditava ser por ter encontrado um pequeno pedaço de céu fora de mim. Nunca mais. Mas não é por isso que vou fantasiar, não quero vulgarizar o sentimento e chamar de amor o que nunca passou de afeto.
Doído assumir que sou toda efemeridades, estrangeirismos, distâncias. São tendências fatalistas que me levam de encontro ao movimento divergente, me desencontro sempre em multidões. Mas tenho ampliado meus achismos, sufocado lembranças e assassinado convicções. Tudo isso pra facilitar, simplificar. Pra que essa fuga se renda e me enclausure numa cela de sonhos. Pois aprendi a andar com passos lentos, mas quero a pressa de uma maratona, uma urgência qualquer que me toque os sentidos e acelere esse batimento cardíaco inerte.
Tenho andado fora de qualquer domínio, sendo avulsa quase que absolutamente. Mas pode ser que eu esteja disposta a assumir agora o risco, aceitações completas, renúncias acertadas. Ainda sem exigências e sufocamentos - choques térmicos emocionais matam também -, mas não mais mansidão, água morna, banho maria. É que durante esse tempo todo fui vivendo em metades: interrompendo parágrafos, abortando tentativas, e finalmente fui vencida pela ousadia. Deixo-me levar.
Deixei tudo desmontar, devagar, porque hoje tô com essa fome de expansão. Com essa ânsia por abismo, pé no precipício, qualquer coisa de vertigem que se assemelhe a sentir. Abri mão da lógica pra abarcar a imprecisão das alegrias perigosas. Não quero empalidecer como tudo que é esquecido, então levo flores no caixão do passado, que é pro fantasma não me assombrar. Só quero o futuro, o salto, a queda e tudo o mais que eu possa aprender a suportar.