sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Anything but ordinary

"I’m a little bit of everything all roled into one. I’m a bitch, I’m a lover. I’m a child, I’m a mother. I’m a sinner, I’m a saint, I do not feel ashamed. I’m your hell, I’m your dream. I’m nothing in between, you know, you wouldn’t want it any other way, so take me as i am."

[Alanis Morissette]

Quando escrevo, não me denuncio. Não falo sobre o que é lantente, sobre o que dói. O presente é tímido. O ator desse palco de palavras é o passado que me moldou. Não disserto sobre amores, psicografo. Não falo sobre algo vivo, mas relembro algo já sepultado. O que morreu em mim foi soterrado e na lápide, visível, restam memórias. Memórias que lembram a origem de cada sorriso já esquecido, de cada ferida que há muito virou cicatriz. Mas minha memórias não ressuscitam, jazem em paz, longe. Tenho a sabedoria de não diminuir o passado e, simultaneamente, exaltar o agora. Foi o ontem que me construiu, mas é de hojes que sou feita.
Escrevo porque vivo e o que sinto não cabe em mim, salto e me faço em símbolos. Mas minhas palavras não são confissão, não ousaria me revelar. Escrevo porque a relidade não me basta e então me reinvento. Devaneios meus, vidas nossas. Escrevo porque as linhas me pedem preenchimento e minha vida, um registrou concreto. Existem memórias que não foram, mas se eternizam documentadas simulando uma falsa vida, o benefício da fantasia.
Meu coração é festa e minha jukebox tem playlist infinita, mas há noites em que me divirto só. Não convido ninguém e festejo minha individualidade endeusando minha companhia. Não amo a quase ninguém mais que a mim. Eu disse quase. Sou mimetista, camaleoa, lunática. Sim, são assim também minhas palavras. Se colorem, se camuflam, se transformam. Sou inconstância e precisão. Sou amnésia e recordação. Então escrevo sobre o mundo e não me alcanço. Minhas mãos estão vazias, mas meus braços abarcam até o metafísico, me perco.
Sou violência e coisas mansas, ataco e planejo defesa. Auto conhecimento é fábula enganosa. Acordo e me belisco pra saber-me viva e jamais por mim completamente conhecida. Sou incógnita de cálculos impossível. Sou definição incompleta no dicionário. Sou página ilegível de um livro encharcado. Não escrevo pra desvender, escrevo pra questionar. Sou premissa sem conclusão. Não sou ponto, sou interrogação.

domingo, 14 de novembro de 2010

New Perspective



"5,4,3,2,1 I won't stop until it's done.No curtain call, I will not fall. I have no time for fear or people in my ear. Head down and running so fast, try not to dwell on the past."

[Maroon 5]

Não, já não cabes nesse espaço e acho que sabes o motivo. Foste vencido pelas verdades e agora estás aí arrebatado pelo peso da angústia que é um arrependimento. Te dei intervalos, possibilidades, mas meus protestos tímidos não fizeram efeito. Tua causa egoísta simulou cegueira e surdez, então, me retirei. Sim, rasguei as cartas. É, anulei nossos tempos bons.
O que plantei ontem foi qualquer coisa fria e o que floresce hoje é apatia. Os frutos do meu descaso são os amores para os quais não dou atenção. Os corações ávidos aos quais nem mesmo concedo a chance de tentar me fazer feliz por supostamente prever os prováveis fracassos. A minha felicidade reside agora em mim e em alguns outros poucos afluentes, pouquíssimos. Sou agora marinheira. Meu porto sou eu. Tu tentas penetrar minha tripulação e nego teu pedido, isso não te pertence mais. É, podes chamar de vingança, eu chamo de justiça natural. Se tu foste pra mim uma mão rude, sou agora um punho de pedra. E não, não é batalha de forças, são estratégias de auto-defesa. Cada um em sua guerra particular. Mas não me interpreta literalmente, por favor. É pela paz que sou, que caminho, que persisto. Hoje suspendi as atividades do domingo pra vir te dizer que desculpo tua insensatez e teu egocentrismo. Meu protesto tímido continua, admito, mas é que a incompreensão ainda me nocauteia. Mas os atos são e foram teus, a loucura é tua, a irresponsabilidade inadmissível também. Então me retirei de ti e se a minha ausência é sinônimo de sofrimento, só lamento. Mas te desculpo porque tive a sorte de ser quem sou por tudo isso, por saber o que não quero ou devo ser. O que faço, agora faço por mim. E sou feliz. Se te desculpo, é por mim. Por ti? Não. Aprendi. Tarde, com choques, com traumas. Aprendi. Voltar seria regresso e já não admito. Por isso sussurro esse não claro e escrevo essa negativa legível. Não ando de ré e meu pé comprime o acelerador. As milhas são muitas e meu carro agora tem assento único. Mudo a marcha e o retrovisor tá embaçado, não quero trilha percorrida nem observar o passado. Sou avião, sou trem, sou navio, sou velocípede. Sou movimento, ainda que sem direção.

domingo, 7 de novembro de 2010

Quem vos fala...



Amanda: um embarque virtual nos sentimentos

Em 2009, o número de pessoas que utilizava a internet no mundo chegou a quase 2 bilhões. Desses, pelo menos 126 milhões criaram blogs. No Brasil não há um controle oficial de quantidade, mas estima-se que o número de blogs no país chegue a 150 mil.
Amanda Arrais Mousinho é dona de um deles, do endereço www.404aa.blogspot.com. Nele, escreve coisas pessoais, mas de uma maneira tão poética que é quase impossível não se apaixonar pela sua sensibilidade. Em menos de 7 meses de existência, o blog já acumula quase 4000 visualizações e 109 seguidores. A maioria dos textos chega a ter 30 comentários. Mas os números não são o forte de Amanda. Ela é boa mesmo com as palavras.
Amanda concedeu esta entrevista de forma muito descontraída. No intervalo entre uma aula e outra, na UFMA, sentada em uma das cadeiras da sala, a estudante de jornalismo, sempre com um sorriso tímido no rosto, se mostrou confiante para responder qualquer coisa. Algumas vezes olhava para o teto, provavelmente para se conectar aos seus próprios pensamentos. As pernas em constante movimento chamaram a atenção. Com uma calça jeans, camiseta amarela, tênis e o cabelo preso, esperou ansiosamente a primeira pergunta.


“Como você define, em apenas uma palavra, esse momento da sua vida?”, perguntei. Amanda teve que pensar um instante. Uma palavra é muito pouco para ela. “Paz”, respondeu, depois de refletir. Ela confessou que já passou por turbulências na vida nos últimos anos e que agora se sente em estado de tranquilidade.
A blogueira sempre gostou de escrever e desde a 5ª série do ensino fundamental cria pequenas poesias. A partir dos 14 anos, começou a escrever textos mais “sentimentais” que fizeram sucesso entre os amigos próximos. Eles passaram a pedir a Amanda que escrevesse sobre determinados assuntos. Esse ano, ela finalmente reconheceu sua habilidade e aceitou a sugestão dos amigos para criar um blog que reunisse todos seus textos. Com o tempo, conseguiu atrair cada vez mais pessoas, que, ao chegarem a sua página, simplesmente se encantavam com a delicadeza da escritora. Dentre seus leitores assíduos, estão sua mãe e sua avó, que fazem questão, inclusive, de comentar os textos.
Quanto ao nome do blog, ela explica: “O 404 se refere ao ‘erro’ que as páginas da internet às vezes dão. ‘404, not found, error.’ Eu acho que falar (ou não) pode ser um erro. Nunca se sabe a medida exata, então as palavras, muitas das vezes, acabam sofrendo do excesso ou da falta. Mas, como diria Clarice Lispector, porque há o direito ao grito, então eu grito”.
Amanda faz muitos textos que falam sobre o amor. Ao ser questionada sobre sua vida amorosa, dá um riso e responde: “Sim, já tive decepções amorosas e gosto de observar o ciclo das relações e os sentimentos que os envolvem”. Para ela, o amor é uma carência universal.
Sobre escrever no blog, Amanda diz que se inspira com diversas situações. Momentos, sentimentos dela ou de outras pessoas, conversas. Tudo é motivo de inspiração. Ela garante que é melhor com a escrita do que com a fala. Considera muito difícil expressar-se oralmente e confessa já ter inclusive terminado um namoro por carta. Tem mania de colecionar cadernos e agendas e conta que possui vários deles, alguns confeccionados por ela mesma para anotar frases que chamam atenção.
Quando o assunto é leitura, Amanda também se mostra interessada. Tem o costume de ler Caio Fernando Abreu e Fernando Pessoa. Atribui o gosto pela leitura à mãe, que, como professora, sempre levou livros para casa. Ela lembra que leu o primeiro livro de Harry Potter quando tinha apenas 7 anos.

O mundo de Amanda


A aspirante a escritora tem uma relação muito próxima com sua irmã, Juliana. Ela diz que seus gostos são muito parecidos, mas que só a partir dos 12 anos começaram a se aproximar. Juliana hoje tem uma tatuagem que expressa essa relação. “Até o fim”, é a frase tatuada. Tem também uma paixão excepcional por São Paulo. Lembra que foi pela primeira vez lá aos 8 anos e se encantou com a grandeza da cidade. Se interessa pela riqueza cultural e o espírito de liberdade da grande metrópole, tão diferente de São Luís, cidade onde nasceu e cresceu. Ela diz que pretende morar em São Paulo com a irmã depois que se formar em Jornalismo. Outro lugar que a encanta é a Itália. Recentemente começou um curso de italiano e pretende visitar o país assim que puder.
É disso que Amanda precisa: um mundo quase infinito, onde caibam todos seus sentimentos e onde a liberdade, mais espiritual do que física, não tenha limites. Seu signo,aquário, assim como seu ascendente faz com que ela se considere “duplamente aquariana”. Esse signo é caracterizado por um desejo de libertação do pensamento e a recusa em se submeter aos poderes e verdades alheias. O aquariano também é muito vivo intelectualmente e valoriza as amizades.
A amiga Luciana declara: “Eu me identifiquei muito com a inteligência de Amanda e com a história da vida dela, marcada por decepções, aprendizagens e superações”. Luciana define a amiga como “incomum” e diz que o desapego é uma de suas grandes características. Por fim, afirma: “O "eu te amo" da Amanda é diferente. Ela não diz sempre e nem precisa dizer, você deve saber e ela vai achar um absurdo você duvidar disso. Ela sorri de tudo e eu adoro, porque não é um sorriso falso. Amanda é alegre mesmo e você sente isso quando a conhece”.
Sobre seus próprios defeitos, Amanda dá uma risada e começa: “Tenho tantos defeitos. Acho que sou egoísta e não sei demonstrar bem o que sinto, por isso pareço ser indiferente”. Quando questionada sobre sua futura carreira jornalística, ela diz que pretende fazer grandes reportagens e até escrever um livro. “Mas só um”, afirma. Se for trabalhar na televisão, garante que será apenas atrás das câmeras.
“O que você considera a coisa mais importante no mundo?”, pergunto, para finalizar. Rapidamente, Amanda responde: “Tolerância. A tolerância gera paciência, amor e respeito. Já fui muito impaciente, mas agora percebo que o tempo melhora as coisas”.
Amanda é assim: por fora, uma menina comum, alegre e quase misteriosa. Por dentro, viva e intensa. Olhando para ela, não dá para saber o que se passa. Seus sentimentos são enormes, mas só explodem no papel.
“Numa transgressão, desaprendi a falar. Numa progressão, comecei a escrever. Numa evolução, escolhi por calar” Amanda Arrais.

Por Maria Fernanda (@mari_nanda)