domingo, 22 de agosto de 2010

Enjoy the silence


"Words like violence break the silence come crashing in into my little world. Painful to me, pierce right through me. Can't you understand? Words are very unnecessary, they can only do harm. Vows are spoken to be broken. Feelings are intense, words are trivial. Pleasures remain, so does the pain. Words are meaningless and forgettable.
Enjoy the silence..."


[Depeche Mode]


Não gosto de palavras exibicionistas. Não gosto de discursos apelativos. Não gosto de demonstrações públicas de afeto. Não gosto de alardes de um amor histérico.
Assim, colado à minha discrição sentimental, postou-se o meu amor, calado. Te amei tanto que nem sei... Um amor colossal, mas quieto. De uma arquitetura fantástica, milimetricamente construído, mas musicalmente quase inaudível, notas abafadas. Inexplicavelmente agitado que fez um barulho perto do insuportável dentro de mim. Tu chegaste e eu senti uma festa, fogos, êxtase. Por fora, um mar sereno, pôr-do-sol contemplativo.
Amor a gente não grita ou ele corre, assustado. A gente canta baixinho, canção de ninar, embalo na rede. E eu fui te amando no meu silêncio que não pede por audiência, não gosta de ibope. Tu ouviste? Sussurrei meus segredos e ninguém ouviu. Não quis desnudar-me para a incompreensão, não haveria quem pudesse entender um amor daqueles. Ah, se era amor, viu?!
Quanto de mim tu querias? Tiveste tudo sem saber. Não me revelei por saber-te vertigem, abismo. Pulei do precipício 18 vezes dentro de mim, o que tu viste foi uma menina calada na beira da pedra admirando o horizonte. Tu achaste que faltou coragem, eu achei que sobrou precaução. Dentro de mim voei livre até cair por terra, mas tu não viste minhas asas, só os meus pés presos demais ao chão. Eu nadei oceanos, afoguei sem ar e o que tu viste foi o meu medo pacífico frente ao mar.
Fui julgada indiferente mesmo detentora de tamanho sentimento, não repliquei. As réplicas do meu amor seriam uma calamidade, uma valentia, grito de guerra, mas não repliquei e tu achaste que havia ganhado a batalha. Minhas razões não te foram outorgadas e então virei vítima da minha resistência.
Não há quem ouça um amor mudo, não há quem veja um amor invisível, não há quem narre um amor intraduzível. Te amei de um amor implícito, consumado em não-palavras. Escolhi amar-te em silêncio porque sei que a verdade não faz barulho. É o meu calado ainda colado em mim.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Let me go



"So long, my luckless romance, my back is turned on you. Should I known you'd bring me heartache? Almost lovers always do. So you're gone and I'm haunted and I bet you're just fine. Did I make it that easy for you to walk right in and out of my life?"

[A Fine Frenzy]


Fecha os olhos, menino. Tira um tempo desse mundo que pede demais e vê se para um pouco pra pensar e pensa menos. Pensa menos que eu sei que o teu pensar te dói, sei que esperaste de mim mais do que eu pude dar e agora tento redimir-me passando as mãos pelos teus cabelos pedindo que durmas. Mas peço que durmas porque quero ver teu machucado aliviado, quero ver teu sorriso pleno em um sonho qualquer que há de vir, quero ver tua paz de quem não está aqui. E é tanto que me falas agora, tanto que soltas sem pensar na insistência de um orgulho ferido. Acabo por pedir desculpas mesmo sem achar em mim culpas fatídicas. Mas peço desculpas porque deixei-te apaixonar, deixei-te ir ao fundo e agora permaneço na minha superfície casual. Não te acompanhei no subterrâneo, não cavei contigo valas, não enxerguei contigo o sol nem parei pra ver as estrelas de que tanto falava. Não fiz...
Fecha os olhos, menino. Tira essa necessidade de completude do coração. És tanto sem complemento e, ainda assim, anseias tanto pela duplicidade. Tentas cutucar-me com frivolidades passadas, histórias de anteontem e eu sei que é o hoje que te tira o sono. Sei que não funciona agora botar-te pra dormir, mas ouve essa canção que eu fiz pra ti, canção pra me esquecer. Canta ela baixinho, vai repetindo até adormecer que o sono cura. Não, não cura, ameniza. Foram as tuas emoções tão aguçadas e o teu “me conhecer” tão repentino que me fizeram ouvir o alarme, o alarme de te querer perto pelo tempo que tivesse de ser. Mas nos queremos tão diferentemente e eis o que não sei explicar. Ou sei, mas não consigo... Não falei...
Fecha os olhos, menino. Deixa de mão essa densidade toda e essa mania de pensar no que poderia ter sido. Não poderia ter sido porque eu sou assim, não teria sido de outro jeito, não teria sido diferente, desculpa. Desculpa pela não-correspondência, mas fui fiel. Tão fiel a ti que a minha verdade não me deixou mentir e a minha sinceridade te fez sangrar. Mas és maior agora e, olha, vou confessar, tive contigo uma felicidade louca, compacta. Tive. Não doei...
Fecha os olhos e também um pouquinho só do teu coração. Fecha pra que agora não te machuquem. Para que o sangue coagule; a ferida, cicatrize; as músicas, embelezem e meu nome evacue, evapore. Foram gestos involuntários que desencadearam esse processo, mas aparecemos porque nos merecíamos. Me fizeste bem... Não fomos em demasia nem em falta, fomos na medida exata. Fomos o que devíamos ter sido e somos o que nos cabe e nos preenche. Agora fecha os olhos devagar, menino. Sente as notas, memoriza a letra dessa canção pra me esquecer. Fecha os olhos e ouve a melodia.