quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Home is where you are


"For the strength, to be strong, for the will to carry on. For everything you do, I turn to you. For the arms to be my shelter through all the rain. For truth that will never change, for someone to lean on. But for a heart I can rely on through anything. For the one who I can run to, I turn to you"
[Christina Aguilera]
Sobre vocês, é só de amor que sei falar. Mas não falo, sinto. E em silêncio percebo a força desse amor largo, extenso. Talvez eu não entenda os mistérios da vida, meu meu ceticismo acredita com convicção que, sim, foi predestinação. Um colosso, um palácio de ornamentação inebriante, mas também uma casinha simples no campo, palafita suspensa em instabilidade. Somos o refúgio máximo, um infinito maior. A única eternidade imprescritível. E simples. Somos raiz e árvore, o ponto de partida e também o de chegada. Somos 5, completos, duradouros, necessários, imortais. Incontestável matriz, centro do meu universo. A composição da minha história, o fermento da minha alegria, o prestígio de simplesmente pertencer. 


Meu motivo, minha exceção, meu apego, minha redenção. Porque a vida corre, desvairada, mas vocês me alimentam o coração. São pétalas em meio a uma realidade que fere com espinhos. Amor que cura, amor que dura. E as flores que o vento entortou ao passar pelo nosso lar foram devidamente desviadas com golpes de pincel, zelo inestimável.


Porto, conforto, segurança, certeza. Tudo que em mim existe, disponho. Por vocês não há o que eu não faça. Toda minha gratidão pelo tempo oferecido, pelo sorriso dividido, pela paciência adquirida, pela tolerância renascida. Pelo carinho imensurável, pela disponibilidade incontestável, pelo amor incomparável. Inexplicavelmente grata por serem vocês o que somos nós, e somos bem mais que uma família. Sem vocês, não sou.
Minha vida para vocês, por vocês. Nossas vidas para mim. Honra em amá-los. Sorte de tê-los. Amor e além.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Simple as it should be


"Free to roam, made a home out of everywhere I've been, then you come crashing in like the realest thing. Trying my best to understand all that your love can bring..."

[John Mayer]

Por que te fazes impermeável? Abre os braços e me deixa entrar. Por que me dizes frases curtas? Sei que escreves por hábito e não quero ter a exceção da economia. Tô brincando com fogo, tô jogando gasolina, cadê a fumaça? Não tenho medo de queimaduras e isso não me faz piromaníaca. Só cansei da monotonia dessa brisa litoral, quero um furacão. Quero uma erupção inesperada que me desarme o calculismo. Quero tua inocência doce pra balancear umas memórias amargas. Quero tua crença pra amenizar meu ceticismo. Não gosto de invasões, tenho a calma de quem aprendeu com o tempo. Aquela sensação de uma possibilidade brilhante me dominando nem tão rápido, calmamente, confortável. Quero ser flor e pétala, não espinho. Mas sei que vou machucar. Quero ser descoberta e não reciclagem; realidade e não miragem.
Tu não te atreves por saber que é movediça a areia que te espera, mas nunca serei concreto, nunca serei uma só. Tens o tempo necessário pra desvender meu desconhecido e reconhecer o território. Espero tua coragem chegar enquanto me reconstruo. Preciso estar nova e varrer os ontens. Porque andávamos em ruas paralelas e agora alcançamos um cruzamento. Os caminhos não são sinalizados e placas não avisam nem preveem perigo, mas eu te guio. Pode ser que nos percamos, mas não sou motorista de primeira viagem e conheço a estrada. A  estrada me mudou, outrora, e pode agora estar por outros mudada. Mas te dou as instruções e tu diriges com cautela, confio na combinação e viajar nunca foi sobre medos, mas desejos. Nossas malas ainda entreabertas, mais tarde estufadas de lembranças fabricadas. Uma viagem sem volta com um horizonte cinematográfico como ilustração. Solta o freio e segura minha mão. És estrangeiro, mas te dei o visto. Meu mundo permitindo tua visitação.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Anything but ordinary

"I’m a little bit of everything all roled into one. I’m a bitch, I’m a lover. I’m a child, I’m a mother. I’m a sinner, I’m a saint, I do not feel ashamed. I’m your hell, I’m your dream. I’m nothing in between, you know, you wouldn’t want it any other way, so take me as i am."

[Alanis Morissette]

Quando escrevo, não me denuncio. Não falo sobre o que é lantente, sobre o que dói. O presente é tímido. O ator desse palco de palavras é o passado que me moldou. Não disserto sobre amores, psicografo. Não falo sobre algo vivo, mas relembro algo já sepultado. O que morreu em mim foi soterrado e na lápide, visível, restam memórias. Memórias que lembram a origem de cada sorriso já esquecido, de cada ferida que há muito virou cicatriz. Mas minha memórias não ressuscitam, jazem em paz, longe. Tenho a sabedoria de não diminuir o passado e, simultaneamente, exaltar o agora. Foi o ontem que me construiu, mas é de hojes que sou feita.
Escrevo porque vivo e o que sinto não cabe em mim, salto e me faço em símbolos. Mas minhas palavras não são confissão, não ousaria me revelar. Escrevo porque a relidade não me basta e então me reinvento. Devaneios meus, vidas nossas. Escrevo porque as linhas me pedem preenchimento e minha vida, um registrou concreto. Existem memórias que não foram, mas se eternizam documentadas simulando uma falsa vida, o benefício da fantasia.
Meu coração é festa e minha jukebox tem playlist infinita, mas há noites em que me divirto só. Não convido ninguém e festejo minha individualidade endeusando minha companhia. Não amo a quase ninguém mais que a mim. Eu disse quase. Sou mimetista, camaleoa, lunática. Sim, são assim também minhas palavras. Se colorem, se camuflam, se transformam. Sou inconstância e precisão. Sou amnésia e recordação. Então escrevo sobre o mundo e não me alcanço. Minhas mãos estão vazias, mas meus braços abarcam até o metafísico, me perco.
Sou violência e coisas mansas, ataco e planejo defesa. Auto conhecimento é fábula enganosa. Acordo e me belisco pra saber-me viva e jamais por mim completamente conhecida. Sou incógnita de cálculos impossível. Sou definição incompleta no dicionário. Sou página ilegível de um livro encharcado. Não escrevo pra desvender, escrevo pra questionar. Sou premissa sem conclusão. Não sou ponto, sou interrogação.

domingo, 14 de novembro de 2010

New Perspective



"5,4,3,2,1 I won't stop until it's done.No curtain call, I will not fall. I have no time for fear or people in my ear. Head down and running so fast, try not to dwell on the past."

[Maroon 5]

Não, já não cabes nesse espaço e acho que sabes o motivo. Foste vencido pelas verdades e agora estás aí arrebatado pelo peso da angústia que é um arrependimento. Te dei intervalos, possibilidades, mas meus protestos tímidos não fizeram efeito. Tua causa egoísta simulou cegueira e surdez, então, me retirei. Sim, rasguei as cartas. É, anulei nossos tempos bons.
O que plantei ontem foi qualquer coisa fria e o que floresce hoje é apatia. Os frutos do meu descaso são os amores para os quais não dou atenção. Os corações ávidos aos quais nem mesmo concedo a chance de tentar me fazer feliz por supostamente prever os prováveis fracassos. A minha felicidade reside agora em mim e em alguns outros poucos afluentes, pouquíssimos. Sou agora marinheira. Meu porto sou eu. Tu tentas penetrar minha tripulação e nego teu pedido, isso não te pertence mais. É, podes chamar de vingança, eu chamo de justiça natural. Se tu foste pra mim uma mão rude, sou agora um punho de pedra. E não, não é batalha de forças, são estratégias de auto-defesa. Cada um em sua guerra particular. Mas não me interpreta literalmente, por favor. É pela paz que sou, que caminho, que persisto. Hoje suspendi as atividades do domingo pra vir te dizer que desculpo tua insensatez e teu egocentrismo. Meu protesto tímido continua, admito, mas é que a incompreensão ainda me nocauteia. Mas os atos são e foram teus, a loucura é tua, a irresponsabilidade inadmissível também. Então me retirei de ti e se a minha ausência é sinônimo de sofrimento, só lamento. Mas te desculpo porque tive a sorte de ser quem sou por tudo isso, por saber o que não quero ou devo ser. O que faço, agora faço por mim. E sou feliz. Se te desculpo, é por mim. Por ti? Não. Aprendi. Tarde, com choques, com traumas. Aprendi. Voltar seria regresso e já não admito. Por isso sussurro esse não claro e escrevo essa negativa legível. Não ando de ré e meu pé comprime o acelerador. As milhas são muitas e meu carro agora tem assento único. Mudo a marcha e o retrovisor tá embaçado, não quero trilha percorrida nem observar o passado. Sou avião, sou trem, sou navio, sou velocípede. Sou movimento, ainda que sem direção.

domingo, 7 de novembro de 2010

Quem vos fala...



Amanda: um embarque virtual nos sentimentos

Em 2009, o número de pessoas que utilizava a internet no mundo chegou a quase 2 bilhões. Desses, pelo menos 126 milhões criaram blogs. No Brasil não há um controle oficial de quantidade, mas estima-se que o número de blogs no país chegue a 150 mil.
Amanda Arrais Mousinho é dona de um deles, do endereço www.404aa.blogspot.com. Nele, escreve coisas pessoais, mas de uma maneira tão poética que é quase impossível não se apaixonar pela sua sensibilidade. Em menos de 7 meses de existência, o blog já acumula quase 4000 visualizações e 109 seguidores. A maioria dos textos chega a ter 30 comentários. Mas os números não são o forte de Amanda. Ela é boa mesmo com as palavras.
Amanda concedeu esta entrevista de forma muito descontraída. No intervalo entre uma aula e outra, na UFMA, sentada em uma das cadeiras da sala, a estudante de jornalismo, sempre com um sorriso tímido no rosto, se mostrou confiante para responder qualquer coisa. Algumas vezes olhava para o teto, provavelmente para se conectar aos seus próprios pensamentos. As pernas em constante movimento chamaram a atenção. Com uma calça jeans, camiseta amarela, tênis e o cabelo preso, esperou ansiosamente a primeira pergunta.


“Como você define, em apenas uma palavra, esse momento da sua vida?”, perguntei. Amanda teve que pensar um instante. Uma palavra é muito pouco para ela. “Paz”, respondeu, depois de refletir. Ela confessou que já passou por turbulências na vida nos últimos anos e que agora se sente em estado de tranquilidade.
A blogueira sempre gostou de escrever e desde a 5ª série do ensino fundamental cria pequenas poesias. A partir dos 14 anos, começou a escrever textos mais “sentimentais” que fizeram sucesso entre os amigos próximos. Eles passaram a pedir a Amanda que escrevesse sobre determinados assuntos. Esse ano, ela finalmente reconheceu sua habilidade e aceitou a sugestão dos amigos para criar um blog que reunisse todos seus textos. Com o tempo, conseguiu atrair cada vez mais pessoas, que, ao chegarem a sua página, simplesmente se encantavam com a delicadeza da escritora. Dentre seus leitores assíduos, estão sua mãe e sua avó, que fazem questão, inclusive, de comentar os textos.
Quanto ao nome do blog, ela explica: “O 404 se refere ao ‘erro’ que as páginas da internet às vezes dão. ‘404, not found, error.’ Eu acho que falar (ou não) pode ser um erro. Nunca se sabe a medida exata, então as palavras, muitas das vezes, acabam sofrendo do excesso ou da falta. Mas, como diria Clarice Lispector, porque há o direito ao grito, então eu grito”.
Amanda faz muitos textos que falam sobre o amor. Ao ser questionada sobre sua vida amorosa, dá um riso e responde: “Sim, já tive decepções amorosas e gosto de observar o ciclo das relações e os sentimentos que os envolvem”. Para ela, o amor é uma carência universal.
Sobre escrever no blog, Amanda diz que se inspira com diversas situações. Momentos, sentimentos dela ou de outras pessoas, conversas. Tudo é motivo de inspiração. Ela garante que é melhor com a escrita do que com a fala. Considera muito difícil expressar-se oralmente e confessa já ter inclusive terminado um namoro por carta. Tem mania de colecionar cadernos e agendas e conta que possui vários deles, alguns confeccionados por ela mesma para anotar frases que chamam atenção.
Quando o assunto é leitura, Amanda também se mostra interessada. Tem o costume de ler Caio Fernando Abreu e Fernando Pessoa. Atribui o gosto pela leitura à mãe, que, como professora, sempre levou livros para casa. Ela lembra que leu o primeiro livro de Harry Potter quando tinha apenas 7 anos.

O mundo de Amanda


A aspirante a escritora tem uma relação muito próxima com sua irmã, Juliana. Ela diz que seus gostos são muito parecidos, mas que só a partir dos 12 anos começaram a se aproximar. Juliana hoje tem uma tatuagem que expressa essa relação. “Até o fim”, é a frase tatuada. Tem também uma paixão excepcional por São Paulo. Lembra que foi pela primeira vez lá aos 8 anos e se encantou com a grandeza da cidade. Se interessa pela riqueza cultural e o espírito de liberdade da grande metrópole, tão diferente de São Luís, cidade onde nasceu e cresceu. Ela diz que pretende morar em São Paulo com a irmã depois que se formar em Jornalismo. Outro lugar que a encanta é a Itália. Recentemente começou um curso de italiano e pretende visitar o país assim que puder.
É disso que Amanda precisa: um mundo quase infinito, onde caibam todos seus sentimentos e onde a liberdade, mais espiritual do que física, não tenha limites. Seu signo,aquário, assim como seu ascendente faz com que ela se considere “duplamente aquariana”. Esse signo é caracterizado por um desejo de libertação do pensamento e a recusa em se submeter aos poderes e verdades alheias. O aquariano também é muito vivo intelectualmente e valoriza as amizades.
A amiga Luciana declara: “Eu me identifiquei muito com a inteligência de Amanda e com a história da vida dela, marcada por decepções, aprendizagens e superações”. Luciana define a amiga como “incomum” e diz que o desapego é uma de suas grandes características. Por fim, afirma: “O "eu te amo" da Amanda é diferente. Ela não diz sempre e nem precisa dizer, você deve saber e ela vai achar um absurdo você duvidar disso. Ela sorri de tudo e eu adoro, porque não é um sorriso falso. Amanda é alegre mesmo e você sente isso quando a conhece”.
Sobre seus próprios defeitos, Amanda dá uma risada e começa: “Tenho tantos defeitos. Acho que sou egoísta e não sei demonstrar bem o que sinto, por isso pareço ser indiferente”. Quando questionada sobre sua futura carreira jornalística, ela diz que pretende fazer grandes reportagens e até escrever um livro. “Mas só um”, afirma. Se for trabalhar na televisão, garante que será apenas atrás das câmeras.
“O que você considera a coisa mais importante no mundo?”, pergunto, para finalizar. Rapidamente, Amanda responde: “Tolerância. A tolerância gera paciência, amor e respeito. Já fui muito impaciente, mas agora percebo que o tempo melhora as coisas”.
Amanda é assim: por fora, uma menina comum, alegre e quase misteriosa. Por dentro, viva e intensa. Olhando para ela, não dá para saber o que se passa. Seus sentimentos são enormes, mas só explodem no papel.
“Numa transgressão, desaprendi a falar. Numa progressão, comecei a escrever. Numa evolução, escolhi por calar” Amanda Arrais.

Por Maria Fernanda (@mari_nanda)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

The pieces don't fit anymore



"I've been twisting and turning in a space that's too small. I've been drawing the line and watching it fall. You've been closing me in, closing the space in my heart, watching us fading and watching it all fall apart. Well, I can't explain why it's not enough cause I gave it all to you. It's time to surrender, it's been to long pretending. There's no use in trying when the pieces don't fit here anymore"

[James Morrison]

Você me segurou os ombros e pediu que eu esperasse. Eu lhe olhei nos olhos e aceitei a condição. Você me deu as costas e andou calmamente como quem caminha sem rumo. Eu lhe dei o coração e contei seus passos calculando a frequência e sua velocidade em distância por tempo. Você sumiu de vista, adentrou em outro plano. Eu lhe desenhei em mente, admirei abstratamente. Você contemplou novas paisagens, nadou em novas águas. Eu bebi uma saudade travosa, testemunhei lembranças fugirem do meu domínio. Você festejou, dançou e dormiu com o sol, abusou. Eu ouvi a música do silêncio enquanto cantava sua voz em meus ouvidos, abusei da solidão. Você cansou as pernas. Eu deixei de sentir as minhas, dormência. Você, depois de tanto vida de aventura, foi arrebatado pela nostalgia. Eu,vencida pelo cansaço, pedi bandeira branca, anunciei desistência. Você decidiu voltar. Eu escolhi partir. Você chegou e eu não estava mais lá. Eu ainda estou em você. Você não está mais em mim

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

How deep is your love?



"Do amor amuleto que eu fiz, deixei por aí. Descuidei dele, quase larguei, quis deixar cair. Mas não deixei, peguei no ar e hoje eu sei, sem você sou pá furada. Ai, não me deixe aqui, o sereno dói. Eu sei, me perdi. Mas ei, só me acho em ti."

[Los Hermanos]

Quero te falar coisas. Umas mais simples, outras nem tanto. Mas, olha, já me embaralhei tanto em linhas soltas tentando, fracassadamente, declarar esse amor incompreensível. Só que hoje é diferente, tô mais fácil e o que quero mesmo é dizer que me fazes feliz. Tu chegas e me tomas e eu mato tua sede sem saber. Tu te espantas e me ganhas e preenche cada vão que eu nem sabia existir. Não sei desde quando, mas sei que desde cedo. Ainda me sinto completa.
És agora minha manhã preguiçosa, minha cura insubstituível, parte do que há em mim de indivisível. É insensato buscar razão na mágica e imprudente procurar fórmulas, não quero cópias. Quero a legitimidade da unicidade que temos. A minha essência prolongo em ti já que não trago medos de que me invadas. Deixo que visite cada uma de minhas ruas e encante-se com cada beco dos mais sombrios, sei que não tens medo do meu escuro. Então fica assim: eu digo, repito e insisto para que tu não esqueças nem duvides. Eu falo e brinco, me rebelo e te desespero, mas não vou te deixar, não vou me deixar. Porque tenho em mim o amor que te pertence e que mereces. Tenho aqui o zelo ideal que merece o problema andante que és e também a força pra continuar. Força essa que alimento de tempos em tempos com os tempos bons que me prendem, não é sempre fácil não renunciar.
A nossa liberdade aí, se exibindo num samba irresistível, mas a nossa valsa é que ganha a festa. Decoramos nosso compasso próprio e a música é som incansável aos ouvidos. Tenho sonhado acordada mais que em qualquer noite sem fim, tenho acreditado num celestial que me provaste real. Alternativamente acessíveis em toda e qualquer parte: tenho que assumir a insanidade que é te sentir sempre ao meu lado, impossivelmente real.
Nascemos com vida eterna e com a intuição de algumas outras já passadas. A verdade é que os tempos dividiram-se em dois: antes e depois. Foste um mal convertido em bem, ambos necessários. E sei que serão muitos os cortes, muitas as mortes, mas nossa vida é bem maior e inestimável, renasceremos em infinitude. O céu é um só; o planeta, "redondo" e o mundo, cheio de esquinas. Um dia te encontro sim. Tenho paz, amor e paciência. Ainda te espero aqui, do jeito que tem que ser.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pedido ao tempo


"Terra que não pára de rodar, é tanta história esparramada pelo chão e em tanta vida amor valente é coisa rara. Ó, terra, não dispara, deixa em paz meu coração. O tempo passa e leva quase tudo, é o que separa o começo do fim. E vai deixando um cheiro de saudade que essa tal felicidade não tem dó de mim."

[Anna Luísa]


A noite de ontem ressurge em flashes e o único fato que me vem claro é que eu tento tanto em outros copos, em outros corpos, te deixar. Teu efeito é prolongado e aparentemente infindável. Ainda me embriaga e preciso abandonar o vício. Tuas doses tem se tornando uma violência contra minhas lembranças e essa dor não agrada nem mesmo meu masoquismo. Quero deixar-te ir, mas tu não queres ser deixado de mim, por mim, em mim.
O que eu precisaria dizer é que tu tens que ir embora agora porque já não suporto essa angústia do que não passou e persiste, latente em minhas palavras e no meu silêncio. O que eu precisaria dizer é que tu és, teoricamente, meu passado, mas figura inconvenientemente insistente no presente e isso dói. Eu vou soprando o machucado porque o vento contorna e dá a volta antes de aliviar e nessas voltas eu finjo que não sinto nada só porque gosto de ouvir minhas mentiras. O que eu precisaria falar é que ainda me assusta ter te guardado tão dentro e no fundo.
Se eu rezasse, rezaria. Se eu fosse de chorar, choraria. Se eu não fosse orgulhosa, admitiria. Se... Mas o se é condicional demais pra mim que preciso da urgência, é um caso de emergência. Mas e se eu não te amasse? E se? É tão vasto e ilimitado que ultrapassa e vai além, me consumindo.
Isso é tudo que eu precisaria dizer, mas também tudo que eu não suportaria escutar. Saindo da minha boca rumo a lugar nenhum fica tudo mais real, inevitável, e eu ando fugindo da realidade que é ainda guardar esse amor forte, invicto, intacto. Eu precisaria sim te dizer tanta, mas tanta coisa, que calo e repito em gritos, só pra mim, sobrepondo as vozes que contrariam: vai passar, eu sei que vai. Minha estação não quer sintonizar, minha música se recusa a parar de tocar, meu irreal não vai parar de fantasiar e minha negação não vai renunciar. Mas vai passar, eu sei que vai.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Everlasting love


"Oh, until the dawn it brings another day to sing about the magic that was you and me. Cause you and I both loved. What you and I spoke of and others just read of. Others only dreaming of, of the love, of the love that I loved."

[Jason Mraz]

Me diz... Me diz como explicar o que ninguém consegue entender? Eu tento falar e as palavras ficam mudas. Eu tento imaginar e os olhos ficam úmidos. Eu tento simplificar e é tudo tão complexo significativo. É que tu sempre foste o que me foge do entendimento, o que meu raciocínio não acompanha, o que me fascina e aconchega.
Minha parábola mais que oscilante. Eu sei, fugimos às regras. Não sei explicar e, ainda assim, tu sabes entender porque és o amor que quase nunca sinto e a eternidade que nunca questiono.
Por que esse amor todo assim em mim? Parece ironia, brincadeira. Parece um desafio sentir algo tão grande e saber como administrar. Eu que espalho minha felicidade por aí e não sei me encontrar em quase nenhum lugar. Eu que emudeço em silêncio e calo minhas feridas no mais fundo de cada lágrima que quase nunca cai. Choro, esperneio, grito, rebelo. Faço tudo em silêncio, é uma confusão aqui dentro, tu sabes. E sinto que ouves meu barulho, escutas minhas guerras.
E sabe o que eu começo a pensar? Que eu não sei amar. Não sei, não... Naquela minha velha mania de extremos, eu te amo além do que enxergo, escrevo, narro, até do que sinto. Não sei o que fazer com tanto-tudo e então faço essas tortuosidades, vou cometendo uns erros vazios. Fico assim: como uma criança perdida em loja de departamento entre tantos setores distintos, é tanta cor! Me perco entre cabides, placas, luzes, mas não demoro, me encontro. Volto. Volto pra ti porque encontro minha casa, onde tá meu coração. Pelos dias em que eu fui por tempo demais e o medo te tomou, peço desculpas. As crianças gostam mesmo de correr por aí, soltas demais, mas cansam. Cansam sempre e é necessário ter uma casa para qual retornar.
Se fico parada diante das nossas mudanças é pela tranquilidade que nossa certeza me dá, por ter paciência e saber esperar os meus, teus, nossos momentos nos tempos em que eles vêm sempre. Adquiri a calma necessária e só quero te ver feliz, nos ver feliz, no caminho que for e eles se entrelaçam sempre que eu sei.

domingo, 22 de agosto de 2010

Enjoy the silence


"Words like violence break the silence come crashing in into my little world. Painful to me, pierce right through me. Can't you understand? Words are very unnecessary, they can only do harm. Vows are spoken to be broken. Feelings are intense, words are trivial. Pleasures remain, so does the pain. Words are meaningless and forgettable.
Enjoy the silence..."


[Depeche Mode]


Não gosto de palavras exibicionistas. Não gosto de discursos apelativos. Não gosto de demonstrações públicas de afeto. Não gosto de alardes de um amor histérico.
Assim, colado à minha discrição sentimental, postou-se o meu amor, calado. Te amei tanto que nem sei... Um amor colossal, mas quieto. De uma arquitetura fantástica, milimetricamente construído, mas musicalmente quase inaudível, notas abafadas. Inexplicavelmente agitado que fez um barulho perto do insuportável dentro de mim. Tu chegaste e eu senti uma festa, fogos, êxtase. Por fora, um mar sereno, pôr-do-sol contemplativo.
Amor a gente não grita ou ele corre, assustado. A gente canta baixinho, canção de ninar, embalo na rede. E eu fui te amando no meu silêncio que não pede por audiência, não gosta de ibope. Tu ouviste? Sussurrei meus segredos e ninguém ouviu. Não quis desnudar-me para a incompreensão, não haveria quem pudesse entender um amor daqueles. Ah, se era amor, viu?!
Quanto de mim tu querias? Tiveste tudo sem saber. Não me revelei por saber-te vertigem, abismo. Pulei do precipício 18 vezes dentro de mim, o que tu viste foi uma menina calada na beira da pedra admirando o horizonte. Tu achaste que faltou coragem, eu achei que sobrou precaução. Dentro de mim voei livre até cair por terra, mas tu não viste minhas asas, só os meus pés presos demais ao chão. Eu nadei oceanos, afoguei sem ar e o que tu viste foi o meu medo pacífico frente ao mar.
Fui julgada indiferente mesmo detentora de tamanho sentimento, não repliquei. As réplicas do meu amor seriam uma calamidade, uma valentia, grito de guerra, mas não repliquei e tu achaste que havia ganhado a batalha. Minhas razões não te foram outorgadas e então virei vítima da minha resistência.
Não há quem ouça um amor mudo, não há quem veja um amor invisível, não há quem narre um amor intraduzível. Te amei de um amor implícito, consumado em não-palavras. Escolhi amar-te em silêncio porque sei que a verdade não faz barulho. É o meu calado ainda colado em mim.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Let me go



"So long, my luckless romance, my back is turned on you. Should I known you'd bring me heartache? Almost lovers always do. So you're gone and I'm haunted and I bet you're just fine. Did I make it that easy for you to walk right in and out of my life?"

[A Fine Frenzy]


Fecha os olhos, menino. Tira um tempo desse mundo que pede demais e vê se para um pouco pra pensar e pensa menos. Pensa menos que eu sei que o teu pensar te dói, sei que esperaste de mim mais do que eu pude dar e agora tento redimir-me passando as mãos pelos teus cabelos pedindo que durmas. Mas peço que durmas porque quero ver teu machucado aliviado, quero ver teu sorriso pleno em um sonho qualquer que há de vir, quero ver tua paz de quem não está aqui. E é tanto que me falas agora, tanto que soltas sem pensar na insistência de um orgulho ferido. Acabo por pedir desculpas mesmo sem achar em mim culpas fatídicas. Mas peço desculpas porque deixei-te apaixonar, deixei-te ir ao fundo e agora permaneço na minha superfície casual. Não te acompanhei no subterrâneo, não cavei contigo valas, não enxerguei contigo o sol nem parei pra ver as estrelas de que tanto falava. Não fiz...
Fecha os olhos, menino. Tira essa necessidade de completude do coração. És tanto sem complemento e, ainda assim, anseias tanto pela duplicidade. Tentas cutucar-me com frivolidades passadas, histórias de anteontem e eu sei que é o hoje que te tira o sono. Sei que não funciona agora botar-te pra dormir, mas ouve essa canção que eu fiz pra ti, canção pra me esquecer. Canta ela baixinho, vai repetindo até adormecer que o sono cura. Não, não cura, ameniza. Foram as tuas emoções tão aguçadas e o teu “me conhecer” tão repentino que me fizeram ouvir o alarme, o alarme de te querer perto pelo tempo que tivesse de ser. Mas nos queremos tão diferentemente e eis o que não sei explicar. Ou sei, mas não consigo... Não falei...
Fecha os olhos, menino. Deixa de mão essa densidade toda e essa mania de pensar no que poderia ter sido. Não poderia ter sido porque eu sou assim, não teria sido de outro jeito, não teria sido diferente, desculpa. Desculpa pela não-correspondência, mas fui fiel. Tão fiel a ti que a minha verdade não me deixou mentir e a minha sinceridade te fez sangrar. Mas és maior agora e, olha, vou confessar, tive contigo uma felicidade louca, compacta. Tive. Não doei...
Fecha os olhos e também um pouquinho só do teu coração. Fecha pra que agora não te machuquem. Para que o sangue coagule; a ferida, cicatrize; as músicas, embelezem e meu nome evacue, evapore. Foram gestos involuntários que desencadearam esse processo, mas aparecemos porque nos merecíamos. Me fizeste bem... Não fomos em demasia nem em falta, fomos na medida exata. Fomos o que devíamos ter sido e somos o que nos cabe e nos preenche. Agora fecha os olhos devagar, menino. Sente as notas, memoriza a letra dessa canção pra me esquecer. Fecha os olhos e ouve a melodia.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

The ghost of a good thing.


"Lay down your guns, too weak to run. Nothing can harm you here.
Your precious heart, broken and scarred. Somehow you made it through."


[Better Than Ezra]


Ei, volta! Volta aqui e me diz que não tem mais volta. Volta pra me dizer que entre tantas voltas nos perdemos nessa circunferência confusa que tem nos arrematado. Dá uma volta mais nesse nó que criamos e nos prendemos com força tamanha. Mais uma volta para assegurar o não desenlace, pra assegurar-me tua não-ida. Peço que vá, mas peço que voltes. Peço antes que voltes, depois que vá. Volta pra me dizer que, apesar de tanto amor, não tem mais volta, não tem mais jeito, não tem mais... Aperta o laço pra nos termos assim, numa proximidade irremediável, mas cautelosamente separadas por uma distância necessária. Porque perto assim, sinto que não vai funcionar. Perto assim sinto que teu nó me ata e a liberdade que eu quero ter voa pra longe e te amarra em mim. A minha liberdade te amarra em mim... Liberdade amarrar, já viste? Quando digo que o caso é sério, o acaso é sério... Vou chamar a polícia, o bombeiro, o médico. Vou chamar um gari que te limpe em mim, que varra teus restos que me sujam. Vou comprar um xarope que cure esse crime que se passa aqui e um colírio para ver melhor a possibilidade encantadora de cada novo convite que não me atrai e deixo passar. Vou chamar um qualquer capaz de me dizer que sou vítima de um homicídio doloso, vítima viva e isso não é o mais incrível. Sou além de vítima, testemunha, júri e sou juiz. Tu és o crime, és o réu. Um réu que, mesmo calado, anula minha sentença de prisão perpétua e persiste num sequestro leve, num furto indireto.
Volta, mas volta mesmo. Volta pra fechar a porta que deixei entreaberta enquanto te esperava voltar. Me diz que agora vai embora de vez, pra não voltar nunca mais e abre a janela pra minha falta de ar ser compensada pelo vento que vai invadir quando tu saíres. Invadir o vazio costumeiro que a tua ausência me traz. Quando tu saíres e me deixares tantos buracos, levando tantos cheios que eu costumo ter, vê se percebe que quando fechaste a porta, dessa vez dei-me ao trabalho de trancá-la. Dei-me ao trabalho porque te quero sempre perto, mas agora do outro lado, de outro jeito. Vais tentar usar a força bruta e arrombá-la ou a gentileza e pedir calmamente para que novamente entres, mas será pela janela que um intruso vai invadir e colonizar o teu espaço, nova metrópole. Sem mais voltas nesse laço já deveras apertado. Desenrola, desamarra, desfaz. Ainda que envolta nessa nossa desorganização, tento limpar-me e peço-te por uma ida, sem volta. Desembarque imediato.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Wanna play?


“ I am caught between what you wanted from me and knowing if i give that to you I might just disappear.
Nobody wins when everyone is losing. Oh, its like one step foward and two stepsback.”


[Theory Of A Deadman]

- Sua vez!
- Você tá com cargas na manga.
- Não, não tô.
- Tá sim.
- Não tô, pode conferir.
- Não, não tá. Não literalmente. Mas isso é jogo sujo.
- Eu jogo limpo, você sabe.
- Não comigo.
- Por que?
- Porque cansei de coringas e queria uma vitória. Mas não entendo a lógica do seu jogo.
- Não tô jogando com você. Ou melhor, tô sim. Literalmente, aqui e agora.
- Isso é blefe porque você não tem coragem de dizer a verdade.
- Tenho dito: isso não é um jogo. Tenho sim estratégia, sei da minha cronometragem e sigo minhas regras, mas não é um jogo. E, ainda que fosse, seria um jogo do qual você aceitou participar.
- Não tô pedindo sua crítica virginiana, só sou meio estrangeiro nesses teus extremos. A conheço sem conseguir reconhecer as irregularidades de cada jogada racional demais. E quando você fala manso, em rodeios, é só pra minimizar meu susto.
- Você se espanta e eu não entendo. Se sempre soube dos meus pecados, por que alega agora um tour pelo inferno estando comigo? Não disse que seria séria sempre, muito menos que seria só sua. Você sabia, sempre soube.
- Mas...
- Não! Não me interrompe! Você sabia sim e não me vem com “mas” que isso é desculpa. Pois então isso é um jogo, vamos jogar! Aperta reset que eu quero recomeçar. Te mostrar a limpeza com que te expliquei cada regra. E não esquece: “Don't hate the player, hate the game.”
- Não, não quero mais. Já suportei tuas fases mesquinhas e minha falta de habilidade desastrosa, tô desistindo porque não tenho mais chance de vencer. Nem é game over, é W.O, walkover. Nem é derrota, é desistência. Não posso lutar contra as cartas na mesa e muito menos adivinhar as que estão em mãos. Então acho que isso é o fim. Xeque-mate pra você.


Não era um jogo de resistência, mas inteligência.
Ele foi inteligente em não resistir, sábio em renunciar.
Naquele jogo, com aquelas regras
Ele não tava fadado a ganhar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Too much to ask


"I've tried before but now I feel like letting go of everything that hurts the most.
And now I'm alone and I'm ashamed. Hold me in your arms and now I'm sorry for what I've done."


[Until June]


Senta aqui, amor. Senta aqui e brinda comigo. Brindar a que? Você ainda pergunta? A nós e nossa eterna ciclicidade. Não existe nós? Existe sim, existe em mim. Acho que em você também, escondido. Você nega pra me afastar, mas eu não vou embora, não agora. Sei, sei que já fui antes, mas não tem que ser sempre assim, tão igual. Mudei e preciso que você acredite. Preciso que tenha a força de acreditar na verdade de um ex-mentiroso. Só por uma vez...
É, sei que é pretensão minha chegar aqui como se nada tivesse acontecido, talvez eu nem mereça esse espaço, mas, ah, não sei ir pra longe. Nunca soube e isso você sabe, sou incapaz de perder você de vista e ficar em paz, sinto um vazio e não me acho. Acredita, tô pedindo... Tá, tá. Sei que também não tenho esse direito, sei que pode ser tarde demais, sei que pode ter diminuído, acabado pra você, mas me ouve? Por favor... A verdade é que foi sempre assim, você com essa mania realista-objetiva de ver o lado negativo das coisas, mas foi bom, foi intenso. Lembra? A nossa conexão tinha sim falhas, continua tendo, mas ainda é você que me completa sem saber.
Eu começo a pensar que sou mesmo desligado. Você aqui, sempre indubitavelmente perto, e eu me deixando levar por tanta coisa sem sentido,me deixando, deixando... Deixei demais e acordei com o pesadelo de ver você saindo do meu controle, me esquecendo de vez e definitivamente. Acordei. Não sei perder, não sei. Não sei lidar com isso, não sei ser seu segundo plano. Não posso ser opção, preciso ser prioridade.
É você ainda aqui, é você ainda em mim. Não diz que não tem mais amor, não vem com essa de que tudo mudou. Sei que você mente bem, mas agora sinto a verdade na tua ausência. Sinto o descaso com o meu arrependimento tardio, com a minha percepção atrasada. Essa verdade dói...
Cheguei tarde, eu sei. Mas cheguei. Você tá indo, eu sei. Mas se quiser chegar atrasada, pode vir. Ainda é cedo pra nós dois.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Stay awake.



"Quando eu te vi andava tão desprevinido que nem ouvi tocar o alarme de perigo. E você foi me conquistando devagar, quando notei já não tinha como recuar.
E foi assim que nos juntamos, distraídos..."


[Ana Carolina]

Os indícios são sinal vermelho, pare! O perigo apita e eu, destemida, vou em frente. Alguns dizem masoquismo; eu, coragem. Se vou assim, em bravo e firme passo, é por não mais ter medo de sentir. Na verdade, por nem mesmo enxergar a possibilidade quando sentimentos me parecem improváveis. Caminho distraída, quase flutuando, observando cada detalhe antes não notado. Os olhos são outros; o chão, nem tanto. Você chega em encontro e eu não dou ré pra desencontrar, deixo ser. Porque você não me oferece um perigo claro. Chega assim, devagar, e a nossa velocidade dirige cuidadosamente sem grandes manobras, sem freadas bruscas, em um asfalto ideal. Não sei se inteligência ou descaso, mas você soube não me espantar. Necessidades demais me assustam, sensibilidade demais me repele. O demais é excesso negativo pra mim, gosto do equilíbrio.
Sei que você é uma desordem, sei que sou uma bagunça também. Mas vem cá, chega perto... Sinal verde... Sei que somos entropia, mas nosso caos em dose dupla pode sim apaziguar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nothing but change.


"Passes things, get more comfortable. Everything is going right. And after all the obstacles it's good to see you now with someone else. And it's such a miracle that you and me are still good friends. After all that we've been through, I know we're cool. Memories seem like so long ago. I'll be happy for you if you can be happy for me."

[Gwen Stefani]



Acabou. Não mexe mais. Não inquieta, não aflige. Desandou. Não é o que era, modificou. Não preciso derrubar convicções alheias, conheço minha verdade. Não foi um desamor, só um amor renascido. Um amor não-paixão, um amor não-saudade, um amor não-romântico, só amor. Só amor? Nunca só, sempre tanto.
Já não há relutância em esquecer. Passou, passou sim. A água que saiu da minha nascente há um ano atrás, hoje desagua no mar, libera-se longe. Eu, mais leve. Leve e solta por contentar-me em solidão, tenho sim paciência.
Abafei a turbulência que um dia tive contigo. Não por altruísmo, mas egoísmo. Não foi por fidelidade a ti que deixei de sentir, mas, por lealdade a mim, decretei-me desapegada. Faz sentido, afinal.
Deixei de querer-te porque meu querer era... Era... Era! Não é mais. Agora minhas amenidades sussurram cuidadosamente uma vastidão de contentamento por ser assim, pacífica. Por sermos assim, calmaria. Sorrateiramente obriguei-te a mudar de cômodo em mim. Não um despejo, mas um reajuste.
Reajustados, reconstruídos. Claro, limpo. Sem enganos. Mudou de cor sem desbotar.
Minha casa ainda é o teu lar, mas fechei algumas portas e abri a janela pra respirar.


"Lembro dele sem rancor, sem saudade, sem tristeza, sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou."

[C.F.A]

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Love drunk


'I used to be love drunk, but now I'm hangover
I love you forever, forever is over'


Bebi amor em goles seguidos, em shots ardentes, em drinks irrecusáveis. A ressaca bateu forte. Acordei e me doía tudo, lembranças violentas. A amnésia esperada não aconteceu, memórias vinham me sacudir trazendo a tona tudo que eu queria esquecer. O cheiro leve de um amor qualquer me fazia estremecer, náuseas de saturação. Tentei vomitar, não consegui, nada saía. Tudo dentro, inexplicavelmente dentro e fazendo uma bagunça inimaginável. Como qualquer pós-bêbado, jurei nunca mais embriagar-me. Jurei passar longe de taças e qualquer pequeno amontoado de sentimento engarrafado.
Passado o trauma (não por completo, nunca é), optei por entregar-me ao prazeres óbvios. Um pouquinho de instinto e luxúria pra consolidar minha renúncia provisória ao amor. Noites curtas de uma longevidade bem aproveitada. O que eu precisava era de um pouquinho de transgressão. Jovem demais pra fingir e não há quem me contradiga: primeiro há de perder-se para, então, encontrar-se. Perdi-me em primeira classe, 5 estrelas. A sentença de liberdade perpétua me confortou, oásis. Embriaguei-me de desapego e devo dizer: o gosto desceu doce. Fácil.
Não era falseamento, não. Muito menos auto sabotagem. Era eu sendo feliz do jeito mais egoísta já visto. Era eu me amando de um amor com devoção absoluta. Era eu sendo fiel à uma felicidade tranquila, independente, individualista. Era eu cumprindo cada promessa feita à mim mesma, revigorando os laços comigo. Aproveitando essa licença privada sorri alto, dancei indiscretamente, acordei arrependida, extravasei. Foi bom, fez bem.
Esse impulso de auto adoração se espalhou em mim numa rapidez inexplicável enquanto eu ia vivendo dias de permissividade quase absoluta. Despercebidamente virei adepta da Lei de Talião e apresentei a ressaca de amor à alguns corações. Mas juro, não foi minha intenção. Minhas intenções não eram as melhores, mas não eram perversas, nunca foram. Minha intenção era ser feliz, intensamente. E eu fui. Se fui!
Trepidantes noites (dias ou tardes) de felicidade irresponsável. Mas achei também, entre tanto barulho, o meu sossego e tive uma paz excêntrica, calma-agitada. Entrei na ciranda no seu rodopio veloz. Acompanhei o ritmo incansavelmente. Mas até o incansável cansa e me faltou o fôlego. Sentei pra descansar e você chegou. Me ofereceu um copo com um sorriso despretensioso e eu arrisquei: é uma dose só. Por que não?
Esqueci então que é de dose em dose que nasce a ressaca.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

So what?


Qual é a primeira palavra que você lê?

domingo, 30 de maio de 2010

Free to decide


Ei, menino perdido.
Você aí, você sim. Me olha aqui.
Me olha não, me ouve, você entendeu.
Mas ouve olhando pra sentir minha verdade, ela vai fundo.
Eu já estive aqui antes, não foi uma vez só.
Retorno habitual, rotina batida.
Não quero vir com a ladainha dos experientes, não.
Quero é dizer que isso aqui tudo pode ser bem cruel, viu?
É um pra cada lado e você pra todos, em tudo.
Em tudo e em nada porque diferença não há,
Diferença não faz. Você faz o que?
Você senta. Senta aqui ao meu lado.
A noite é longa e a espera extensa, há tempo.
Há tempo sempre, mas ninguém o dá, ninguém o nota.
Quantos vivem assim despercebidos?
Vivem temporalmente em dias sem vida.
O calendário corre e o ano evapora. Veloz.
Arrogância e barulho. Confusão, não?
É tudo silencioso quando o vazio é assim, preenchido.
Preenchido em partes, você sabe. Você preenche algo?
Ah, a liberdade e seu preço altíssimo a se pagar.
Pessoas avulsas, ninguém se pertence.
Ninguém de ninguém, um todo de lotes egocêntricos.
Mas, sabe, é essa sim a vida que eu sempre quis.
Resmungo como uma desagradável pra te assustar,
Pra amenizar tuas opiniões idealizadas.
Com tanto aviso negativo, o que vier vai ser lucro.
Todos têm suas chances. O que você me diz?
Dar sua mão a morder ou morder a mão oferecida?
Coragem em falta, covardia em promoção, preços baixos.
Vendas altas. Você me vende essa inocência de novato?
Percebi tão fácil que é novo aqui. Ingênuo ainda.
Queria ensinar à você as palavras e os truques.
O mecanismo de vencer nessa competição injusta.
Sem júri e sem juiz. Réu sem provas, é.
Culpado até que se prove inocente, feliz ou infelizmente.
Seleção natural. Não é a lei do mais forte,
Aqui o que impera é a adaptação. Adapte-se!
Não em um dia ou dois, o tempo é todo seu.
Mas não demore muito, a corrida é acirrada.
Pode ir, menino perdido. Chegou a hora.
Já você se acha, vai ser menino achado.
O chão é um só, é vasto,
Mas os caminhos são muitos, incontáveis.
Não entra nessa de pegar atalhos, não.
Conheça toda a estrada, desgaste a sola do sapato.
Se ache, menino perdido. Se ache...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

You got me all wrong


Era uma quarta-feita e o entardecer era rosa no ponto médio da semana. Eu lia no sofá e você entrou abrupto pela porta, sem aviso. As letras se embaralharam e o meu coração, coringa, perguntou 'Why so serious?'. Aprendi, nos acréscimos do segundo tempo, que não posso levar você à sério, mas tenho, ainda assim, que ser séria para não entrar sem perceber no seu jogo-armadilha. O sofá desapareceu e eu deixei de sentir os pés no chão; seus olhos fixos nos meus, minha cabeça no céu (no seu céu, meu inferno). Você soltou um sopro-pergunta “Por que se foi? Era ainda tão cedo...” Eu respirei. O que era aquilo? Ele sabia como me desarmar e aquela falsa falta sentida me tocou, parecia semelhante à minha. Desarmou-me os pensamentos, mas minhas palavras escapuliram numa calma violenta “Não era cedo, era escuro. E fui porque tive de ir.” Ele sentou no sofá que havia há pouco sumido e que logo tratou de ressurgir. Como podia ele iluminar tudo assim? Ele sentou ao meu lado e eu fugi à leste, ele se aproxima só pra me repelir. Insustentável uma não-distância entre nós, havia de ser deixado um espaço pro amor sentar, comprimido. Um amor comprimido que nunca me serviu de remédio, bem mais como veneno(sem antídoto). Junto os pedaços que você bagunçou ao voltar assim, imprevisível, e numa firmeza forjada opto pelo desprezo educado. Olho você e tento fingir que não me importo sete dias por semana, mas só nos fins de cada domingo pacato. Eu minto, você me descobre? Não! Sem essa de acusadores físicos, você me descobre? Me sente? Acho que não... Perdeu o hábito. Perdeu o costume de sermos um antes de dois. Minha saudade se potencializa em cada lembrança, mas as memórias vão desvanecendo, magricelas, desnutridas. Como ousa entrar assim rompendo o equilíbrio da minha sala? Agora, entropia pura e não há quem meça o grau de desordem. Uma desorganização aqui em mim. Perco-me quase por inteira ao achar você em cada departamento abandonado ainda com suas pegadas. É, pegadas, pois me invadiu como um animal selvagem, bicho solto. Afoito demais em uma floresta imensa, desbravando cada canto para depois partir para novos territórios, presas fáceis. Não tô me fazendo de vítima e muito menos julgando você acusado, só acho que somos uma causa perdida, cheque-mate, derrota. Mas foi um privilégio pra mim o que tivemos. Tive uma paz incomum presenteada ao amor calmo e iniciante. Vivi os sorrisos repentinos, a improdutividade do coração inútil, tudo nos conformes. Sintomas de um coração cego, surdo, mudo, mas ativo. Agora ele dorme, meu coração. Tem pesadelos às vezes, mas dorme. E você chega, sem discrição, abrindo a porta assim, acordando-o sem pudor, inconsequente. Você, um irresponsável. Não vê que quando for embora vai continuar aqui? Sonâmbulo, insone. Preciso é me emancipar de você, declarar independência. Onde estão meus subversivos? Chega de subserviência a esse amor ditadura! Chega de tortura! Quero democratizar esses sentimentos oprimidos. Segue o conselho do Quintana: sua presença me pesa, deixa só um quindim na porta da minha casa e fecha a porta quando sair, por favor.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

No one



"É uma saudade pós-saudade. Uma saudade sem o peso de uma saudade. Uma saudade sem a tortura de uma obsessão. Uma saudade de detalhes que só vem em sonhos que não me acordam antes das cinco. Uma saudade que não podia sentir quando estava cheio de saudade. Uma saudade de quem aprendeu a conviver com o pôr do sol."

[Gabito Nunes]

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Tenho sentido tua falta. Não uma falta que grita, exige e faz baderna, mas uma falta leve, discreta, comportada. Essa saudade não invade minha sala desmarcando os livros, sujando os copos ou riscando as paredes, não... Uma saudade baixinha que permeia meus silêncios, aquieta meus sorrisos e desanima minhas cantorias. Sempre foram tantas as minhas certezas, entre elas a de saber que esse dia, um dia, chegaria. Atrasei meus ponteiros, desativei meus alarmes. Não adiantou. TRIM, te vejo indo. Não, não. Não tá indo, eu sei. Mas, ah... Eram tamanhas minhas contemplações com a tua onipresença. Foi tanto que falei pra ti e ninguém mais; hoje é tanto que calo, ninguém mais. Mas deixo sim, deixo ir. Deixo esse egoísmo convertido em possessividade de lado para deixar-te voar. Não vou pedir nada, não guardo nada nos bolsos e nem tenho pressa. Vai sim, pelo tempo que for. É tão vasto o céu, tão tímidas ainda tuas asas. Isso é mais que amor, é amar. Faço hoje por ti o que não fizeste ontem por mim. Vai, pode ir... Mas volta, porque tenho sentido tanto a tua falta...

[I just want you close where you can stay forever.]

sábado, 8 de maio de 2010

Feel this


E você vem falar de amor... Logo pra mim que ando tão desacreditada. Que aos tropeços encontro pedras com as quais me apego e resisto em devolver ao chão. Vem falar logo pra mim que tanto calo. Diz que precisa desabafar, narrar-me a imensidão, fazendo-me pensar que esqueceu da minha incapacidade de percepção tempo-espaço. Vem querendo tomar-me em uma dose sem saber que eu posso rasgar na garganta. Vem mastigando-me com fome sem saber que meus pedaços não cabem em uma mordida. Vem respirando-me sem fôlego sem saber que sou mais que uma brisa, que posso não caber no seu pulmão (vizinho do teu coração quente demais). Vem querendo desenhar-me em planos sem saber que eu não caibo no papel. Você supõe e, entre tanto anseio, se equivoca.
E você volta a falar de amor... Um amor que pra mim é ontem. Que virou carta na gaveta, foto na carteira, ligação perdida. Você me chora dores que meus analgésicos já curaram e chora tanto, que me faz querer presentear-te anestesia. Pede por um espaço que lhe pertence por direito e cotidiano, mas pede ainda mais, mais do que posso dar. Reclama por meu tempo, suplica pela minha atenção, sufoca-me com ciúmes, fazendo-me pensar que esqueceu da minha idolatria aquariana pela liberdade.
E você me grita esse velho e sempre novo amor. Esperneia, soluça, quebra, pragueja, arranha. Faz barulho, faz bagunça. Logo pra mim que tanto almejo a calma, tanto preservo minha paz. Insiste no esgotado, aposta no inviável e eu aqui tentando, durante todo esse tempo, explicar que já deu. Foi intenso, lindo, enorme e eterno até, mas passou. É, foi eterno, mas passou. Faz tanto barulho e eu preciso é do silêncio. Ainda de pé, mas agora possuidora de uma maleta de traumas, uma laguna de lágrimas, um caixote de cicatrizes e uma pasta de músicas inaproveitáveis. Ainda sorrindo, mas agora com tantos contos censurados, tanta vida que nem me pertence mais, tanto cansaço de verbos no pretérito. Ainda feliz, mas agora em ímpar. Em ímpar... E você vem falar de amor?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

No digas nada


"Ando contra o tempo, vou correndo quando dá. Tenho que ir à pé, sem muita fé não chego lá. Com o passar dos anos, eu aceito o que se diz. Sem entender por quê, é bom saber chorar pra ser feliz. Trancos e barrancos, volta e meia, outro lugar. Abre-se a paisagem, a viagem é não chegar. Hoje todos fogem do que ontem era lei."

[Ludov]

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E se tu vieres de novo vou dizer então: vieste com tanto verão, eu queria era inverno. Fria, pedra, indiferente. O que dessa vez? És tu quem dizes. E se eu não contestar? És tu quem exiges. E se eu aceitar e deixar escapulir que és sol demais? Ah, não me leves a mal, mas agora já não tenho tempo a perder, já não jogo segundos no ar. Mudo-me silenciosamente como quem rouba o doce de uma criança. Cautelosamente vou pro meu pólo e deixo-te aqui, no calor do Equador. Equalizar a dor? Equalize. Quero o teu silêncio pra compor minha música até o sol raiar morno pela janela que deixei entreaberta. Tanta ciência humana foi me deixando inexata e as notas parecem não-notadas. E se eu não souber mais desprender os pés do chão? E se eu não souber mais amar sem razão? Se eu não souber, deixe-me não sabendo que assim eu me aprendo. Meus passos pra trás, meus olhos pra frente. Abrindo os braços e apressando os pés. Um dia eu chego lá.

domingo, 25 de abril de 2010

Turn me around



- De repente me deu vontade de cortar aqui isso que a gente tem.
- Cortar?
- Romper. Acabar.
- Entendo...
- Sinto que tenho contigo uma conexão falha, uma mensagem mal interpretada. Sinto que se parasse hoje, não faria falta. Não por falta de amor, por cansaço.
- Te cansei?
- Mais que isso. Me murchou. Tão simples...
- E se regar?
- Não são as pétalas, tá na raiz. Não te vejo mais florescendo em mim.
- Não me deixaria plantar de novo?
- Não é sobre flores. Não te deixaria enraizar de novo, sabe?
- Eu fui a praga do teu jardim?
- Não sei o que foste... Tampouco o que és. Mas precisei de vento e tu foste uma tempestade. Precisei do cabível e recebi em excesso negativo.
- Fui demais pra ti?
- Foi demais sim. Foi demais quando não devia e de menos quando necessitei. E não quero desmerecer tua companhia...
- Eu dei pra ti, de mim, o melhor. Acreditas?
- E o teu melhor é tão pouco pra mim. O teu melhor não me preenche mais.
- Tu me confundes...
- Não por querer. Mas tu me confundiste a tal ponto que eu já não sei o que é esse aperto e esse amor fugitivo. Não sei se foge de vez ou só diminui, devagarzinho.
- Não deixa. Por favor... Agora não... Agora dói...
- Agora te dói e tu não sabes o quanto já doeu em mim. Não sabe porque eu escolhi não falar, não te doí opcionalmente. Vês aí o quanto amei e o declínio em que tudo se encontra. Sinto como se pedaços outrora preenchidos por amor estivessem de repente mais leves. O amor emagreceu, voou, morreu? Não foi com essa força nem com essa fé que estiveste em mim todo esse tempo. E ao saber do vão entre minhas mãos, agora temes cair por entre elas. Foi segurança demais que eu te dei. Segurança quando devia ter-te feito perceber a sorte de ter-me ao teu lado desse jeito tão pra sempre.
- Então sê pra sempre?
- Pedir eternidade não funciona.
- O que funciona?
- Agora? Não sei mais...

domingo, 18 de abril de 2010

Under my skin(s)


"-What the fuck are you doing?
-What do you want, Sid?
-I want you to stop what you are doing, ok? Fucking around. Fucking anything that moves. Just stop, man.
-You started!
-I don't care! I don't care! You're cruel, I hate you.
-I hate you right back. Why don't you pull over to Michelle and give her one. Oh, another one!
-Give a fucking rest, ok? Is you and me, you know that! And you are being stupid.
-My time!
-You went away. Why did you go away? You know, I needed you and you pissed off. My dad said... Well, he said you're special, but you are not! You're just sluttering around like a spoiled kid.
-Michelle, Sid, Michelle.
-I don't love Michelle. I've never loved Michelle. I love you! But you... you... Oh, God. Where were you?"


(Skins 2x08)

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O dizível precedeu o dito e fechei a boca antes que você abrisse os ouvidos. Nem todo acontecimento vira notícia e o meu fato lhe fugiu das mãos. Escrevi somente (em mente) e as palavras não alcançaram o papel, você não leu minha manchete. Era furo, era inédito, narrado numa firmeza enganosa. Dissequei-me para entender o incomum, adestrei meus instintos para ordenar meus pensamentos. Falhei imersa em subjetivismo.
Numa transgressão, desaprendi a falar. Numa progressão, comecei a escrever. Numa evolução, escolhi por calar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Bridge Over Troubled Water


Foi tamanho o escuro que pediram velas. Todo breu merece um lampejo, do que for. E agora o escuro que tanto me confortou, clareou. A vela que era pra iluminar, escureceu. A cera, me queimou. Era pra ser luz? Foi escuridão. Era pra confortar? Foi incômodo.
Foi tamanha a falta de espaço que o ar fugiu. Todo recinto pede ventilação. E agora a claustrofobia me sufoca. A janela que era pra arejar, traz tempestade. As cortinas embaladas por confusão pedem por calmaria. Era pra resfriar? Derreteu. Era pra tranquilizar? Inquietou.
Foi tamanha a sede que a garganta rugiu. Toda secura pede por umidade. E agora a aridez pede pela equatorialidade. A água que era pra hidratar, inundou. A gota que era pra refrescar, desertificou. Era pra navegar? Naufragou. Era pra beber? Engasgou.
Foi tamanha a sujeira que o branco acizentou. Todos os vidros sujos desenhados por dedos pediam por não-borracha. Mas a poeira tinha que baixar e seguir a rotina da vassoura. As manchas não escapavam dos panos perfeccionistas. Era pra limpar? Fez-se transparente. Era pra desinfectar? Fez-se imune.
Foi tamanha a bagunça que a desorganização pediu ordem.
Foi tamanha a insistência que a indiferença pediu atenção.
Foi tamanha a guerra que a batalha pediu um pouco de trégua.