domingo, 25 de abril de 2010

Turn me around



- De repente me deu vontade de cortar aqui isso que a gente tem.
- Cortar?
- Romper. Acabar.
- Entendo...
- Sinto que tenho contigo uma conexão falha, uma mensagem mal interpretada. Sinto que se parasse hoje, não faria falta. Não por falta de amor, por cansaço.
- Te cansei?
- Mais que isso. Me murchou. Tão simples...
- E se regar?
- Não são as pétalas, tá na raiz. Não te vejo mais florescendo em mim.
- Não me deixaria plantar de novo?
- Não é sobre flores. Não te deixaria enraizar de novo, sabe?
- Eu fui a praga do teu jardim?
- Não sei o que foste... Tampouco o que és. Mas precisei de vento e tu foste uma tempestade. Precisei do cabível e recebi em excesso negativo.
- Fui demais pra ti?
- Foi demais sim. Foi demais quando não devia e de menos quando necessitei. E não quero desmerecer tua companhia...
- Eu dei pra ti, de mim, o melhor. Acreditas?
- E o teu melhor é tão pouco pra mim. O teu melhor não me preenche mais.
- Tu me confundes...
- Não por querer. Mas tu me confundiste a tal ponto que eu já não sei o que é esse aperto e esse amor fugitivo. Não sei se foge de vez ou só diminui, devagarzinho.
- Não deixa. Por favor... Agora não... Agora dói...
- Agora te dói e tu não sabes o quanto já doeu em mim. Não sabe porque eu escolhi não falar, não te doí opcionalmente. Vês aí o quanto amei e o declínio em que tudo se encontra. Sinto como se pedaços outrora preenchidos por amor estivessem de repente mais leves. O amor emagreceu, voou, morreu? Não foi com essa força nem com essa fé que estiveste em mim todo esse tempo. E ao saber do vão entre minhas mãos, agora temes cair por entre elas. Foi segurança demais que eu te dei. Segurança quando devia ter-te feito perceber a sorte de ter-me ao teu lado desse jeito tão pra sempre.
- Então sê pra sempre?
- Pedir eternidade não funciona.
- O que funciona?
- Agora? Não sei mais...

domingo, 18 de abril de 2010

Under my skin(s)


"-What the fuck are you doing?
-What do you want, Sid?
-I want you to stop what you are doing, ok? Fucking around. Fucking anything that moves. Just stop, man.
-You started!
-I don't care! I don't care! You're cruel, I hate you.
-I hate you right back. Why don't you pull over to Michelle and give her one. Oh, another one!
-Give a fucking rest, ok? Is you and me, you know that! And you are being stupid.
-My time!
-You went away. Why did you go away? You know, I needed you and you pissed off. My dad said... Well, he said you're special, but you are not! You're just sluttering around like a spoiled kid.
-Michelle, Sid, Michelle.
-I don't love Michelle. I've never loved Michelle. I love you! But you... you... Oh, God. Where were you?"


(Skins 2x08)

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O dizível precedeu o dito e fechei a boca antes que você abrisse os ouvidos. Nem todo acontecimento vira notícia e o meu fato lhe fugiu das mãos. Escrevi somente (em mente) e as palavras não alcançaram o papel, você não leu minha manchete. Era furo, era inédito, narrado numa firmeza enganosa. Dissequei-me para entender o incomum, adestrei meus instintos para ordenar meus pensamentos. Falhei imersa em subjetivismo.
Numa transgressão, desaprendi a falar. Numa progressão, comecei a escrever. Numa evolução, escolhi por calar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Bridge Over Troubled Water


Foi tamanho o escuro que pediram velas. Todo breu merece um lampejo, do que for. E agora o escuro que tanto me confortou, clareou. A vela que era pra iluminar, escureceu. A cera, me queimou. Era pra ser luz? Foi escuridão. Era pra confortar? Foi incômodo.
Foi tamanha a falta de espaço que o ar fugiu. Todo recinto pede ventilação. E agora a claustrofobia me sufoca. A janela que era pra arejar, traz tempestade. As cortinas embaladas por confusão pedem por calmaria. Era pra resfriar? Derreteu. Era pra tranquilizar? Inquietou.
Foi tamanha a sede que a garganta rugiu. Toda secura pede por umidade. E agora a aridez pede pela equatorialidade. A água que era pra hidratar, inundou. A gota que era pra refrescar, desertificou. Era pra navegar? Naufragou. Era pra beber? Engasgou.
Foi tamanha a sujeira que o branco acizentou. Todos os vidros sujos desenhados por dedos pediam por não-borracha. Mas a poeira tinha que baixar e seguir a rotina da vassoura. As manchas não escapavam dos panos perfeccionistas. Era pra limpar? Fez-se transparente. Era pra desinfectar? Fez-se imune.
Foi tamanha a bagunça que a desorganização pediu ordem.
Foi tamanha a insistência que a indiferença pediu atenção.
Foi tamanha a guerra que a batalha pediu um pouco de trégua.