segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

There She Goes Again



Start new when your heart is an empty room with walls of the deepest blue. (...)  And all you see is where else you could be when you're at home, and out on the street are so many possibilities to not be alone. The flames and smoke climbed out of every window and disappeared with everything that you held, dear. And you shed not a single tear for the things that you didn't need, cause you knew you were finally free.”

[Death Cab for Cutie]

 Eu sabia que seria definitivo. A gente sabe quando é a última vez, é o que dizem. Não quis prorrogações, melhor de três, revogação. Não quis que tu continuasse me prendendo naquele andar conhecido, com aquele cheiro mesclado que eu - tentei me convencer no depois - nem gostava tanto assim. Porque foi ali, no retângulo fechado, que me perdi pra ti. Mas, ah, tu nunca vais saber. Nunca vais saber a proeza que foi ter me tido daquele jeito. Eu te vejo ainda nas ruas, em fotografias, em saudades que só chegam depois das 23. Eu te vejo, mas não te olho. Faz sentido? Não que tenhamos feito algum dia, e sei que foi a teimosia o meu precipício. Reconheci em ti o brilho errado que me atrai. Ainda que sem acreditar, sabendo-me incapaz de confiar, fiquei. E ficaria de novo mesmo tendo que ir embora outra vez.

Egoísta que sou, não mergulhei na tua vida, não perguntei dos antecessores, não me interessei pelos teus ontens. É que quem tem passado sabe o peso dele e evita. Eu tenho. Só que contigo quis um presente bonito, e tive. Nunca quis futuro, desculpa se não fui capaz de acreditar em nós. Mas te quis. Muito e quase evidentemente, não fosse eu atriz premiada. Largado no meu sofá, deitado na minha cama, te quis em todo lugar. Com aquelas provocações baratas seguidas por olhares cínicos que evidenciavam os cílios. Não tivéssemos sido inibidos, abortados, quase sujos, poderia até ter sido lindo. Teríamos sido lindos e longos, mas repletos de falhas, porque não fomos feitos pra durar.

Alguma coisa em ti me deixava vazia, alguma coisa em nós não me preenchia. Faltou esforço. Mas tu quiseste me prender; eu cigana, imigrante. Tu quiseste me prender e isso não me espanta, mas eu quis ficar, e isso me assusta. Não por culpa tua, mas por displicência minha: deixei. E quando eu inventava razões pra ir, era só porque queria negar as imensidões que eram minhas vontades desvairadas. Quis a ti errado, perigoso, insuficiente, rápido. Fui artista e fui mentira, mas te querer foi a verdade impronunciável. Te quis fácil, mas não exclusivamente. Te quis madura, mas nem assim sabiamente. Tu de volta pra vida, eles de volta pra mim. Nada que eu não pudesse adivinhar, logo pra nós, que o mistério costumava engolir.

Precisei escrever pra assumir que andei inquieta, não sou de negar. Precisei escrever porque parei de simplificar as complexidades, parei de te visitar sem bater na porta, parei de tentar entender a falta de lógica que nos arrebatou. Larguei. Precisei escrever hoje pra dar tchau, porque não dói mais nem ao som das minhas versões acústicas. Pra agradecer pelo que foste, pelo que trouxeste, pelo que me devolveste. Escrevo agora como quem vomita, já não guardo nada. Obrigada, mas vai. Sem presenças ou ressurreições verbais. Que vá embora, que seja ido, que seja sem volta. Que tudo mude, se já somos nada além de lembrança morna. Que tudo recomece e comece por mim.

sábado, 29 de outubro de 2011

Hold Still




"I think I love you like a car crash, dear. I don't want your wreckage but I find I cannot steer my eyes away now […] And maybe I'll taste you in another time and place. You look so good, I bet you taste like something sweet. But hell is overflowing and there's no way of knowing: If I give up heaven for one moment, will I get it back?"

[Anna Nalick]

Difícil é não saber o que fazer com essa fé nem tão inabalável que ainda tenho em mãos, em nós. De que serve te trazer comigo se não posso te levar a lugar nenhum? Ouço uns barulhos, sinto umas estrelas e até consigo ser toda feita de céu pra te prender. Só que não funciona, não funcionamos. E então passo a ser capaz de umas friezas inimagináveis, de umas omissões monumentais. Mas, ei, onde e como se escondem coisas-monumentos? Grandes demais, escapolem de mim.

Tínhamos uma série de acordos subentendidos selados em silêncios dos mais tagarelas. Mas de repente rompemos, porque não pedi que ficasses, tampouco aceitei tua volta. Ignorei tuas vozes e pedidos, ainda que com o coração trincado para, enfim, me libertar desses pares de anos pesados, e nem tão passados assim. Nós nos juramos a eternidade sem perceber que o calendário é extenso demais pra essas unidades exclusivas. Só que a gente sempre se cuidou como quem espera o amanhã, e fiz teu o meu futuro, indubitavelmente. Então que a tua nudez de máscaras não me intimide. Que tuas verdades difíceis não me machuquem. Que teus direitos exigidos não me sufoquem. Que minhas desconfianças não te ofendam. Que meus silêncios não te doam. Que minhas excentricidades não te espantem.

Sabe, nem sei do que somos feitos. Quem sabe de pedaços pequenos de tudo que é eterno ou mesmo daquelas coisas que terminam sempre só pra recomeçar com mais força. Tu ainda nos guarda aí dentro? Nem precisa ser tão dentro, lá no fundo, aceito também morar na flor da tua pele ou em qualquer lugar. Porque hoje em dia não sinto mais essas paixões, só esse amor fácil dos que aprenderam a esperar. Aprendi. Mas já não espero com aquela devoção enorme de antes, o que é uma pena. Aprendi a te tirar do centro de mim pra viver de verdade, foi preciso.

Me pergunto como é que se adia o amor de uma vida inteira. Tento te explicar que o agora ainda não é nosso, mas teus ouvidos nunca foram bons em escutar minhas racionalidades, esperando e preferindo sempre as brechas do passional. Nunca coubemos no espaço da compreensão. Então deixe estar. Deixe, que logo estaremos. Sãos, sós. Mais sós que sãos, se sempre insanos. Insana eu, sei que tu vais argumentar sobre minhas noites avulsas, doses excessivas, mas é que são esses nossos intervalos. Preciso viver enquanto te espero. O problema é: e se a gente não se achar mais? E se nossos encontros nunca mais forem em par? Às vezes acho que a gente se perde de graça. Tu vais embora e eu não vou atrás. Eu esqueço, tu lembras; tu desistes, eu volto. Mas eu te disse o que alguém disse e concordo: “se eu for amor daqui e tu fores daí, talvez sejamos paz em todo lugar.' Me pacifica?

Quieta, mas inquietamente é como ainda te espero aqui.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Turn Me Round




“Would you reach out for tomorrow or try to turn back time? … Can you live in your skin? Walk in your own shoes? You can’t win if you don’t know how to lose. These open arms will wait for you. Crawl, fall, try, you gotta learn how to fly, these open arms can pull us through between what’s left and left to do.”
[Bon Jovi]
Só quero o recomeço de tudo, ainda que isso finde minhas eternidades planejadas. Porque ninguém guarda os fatos, ninguém memoriza os dados, tudo passa como o que não chega no fundo almejado. Hoje já não existem cartas, apegos, hesitações. E essas coisas inexistentes todas são, sim, embalos de rede. Não existem, mas acalmam, porque qualquer não-peso, pra mim, é leveza. Mas me falta o mistério na vida, me sobra a independência fajuta como escudo. Nunca mais me perdi dentro do que acreditava ser por ter encontrado um pequeno pedaço de céu fora de mim. Nunca mais. Mas não é por isso que vou fantasiar, não quero vulgarizar o sentimento e chamar de amor o que nunca passou de afeto.
Doído assumir que sou toda efemeridades, estrangeirismos, distâncias. São tendências fatalistas que me levam de encontro ao movimento divergente, me desencontro sempre em multidões. Mas tenho ampliado meus achismos, sufocado lembranças e assassinado convicções. Tudo isso pra facilitar, simplificar. Pra que essa fuga se renda e me enclausure numa cela de sonhos. Pois aprendi a andar com passos lentos, mas quero a pressa de uma maratona, uma urgência qualquer que me toque os sentidos e acelere esse batimento cardíaco inerte.
Tenho andado fora de qualquer domínio, sendo avulsa quase que absolutamente. Mas pode ser que eu esteja disposta a assumir agora o risco, aceitações completas, renúncias acertadas. Ainda sem exigências e sufocamentos - choques térmicos emocionais matam também -, mas não mais mansidão, água morna, banho maria. É que durante esse tempo todo fui vivendo em metades: interrompendo parágrafos, abortando tentativas, e finalmente fui vencida pela ousadia. Deixo-me levar.
Deixei tudo desmontar, devagar, porque hoje tô com essa fome de expansão. Com essa ânsia por abismo, pé no precipício, qualquer coisa de vertigem que se assemelhe a sentir. Abri mão da lógica pra abarcar a imprecisão das alegrias perigosas. Não quero empalidecer como tudo que é esquecido, então levo flores no caixão do passado, que é pro fantasma não me assombrar. Só quero o futuro, o salto, a queda e tudo o mais que eu possa aprender a suportar. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Learnt My Lesson Well


"And the message coming from my eyes says leave it alone. Don't want to hear about it, every single one's got a story to tell. Everyone knows about it, from the Queen of England to the hounds of hell. And if I catch it coming back my way, I'm gonna serve it to you. And that ain't what you want to hear, but that's what I'll do."

[The White Stripes]

Minha intenção nunca foi que você sentisse minha ausência, mas você sentiu, chorou. E quando era presença que eu dava, você sentia o quê? É tudo comodismo, força do hábito, menino. Eu tava ali sempre,  elenco permanente. Mas, veja bem, não combina comigo isso de rio perene. Eu seco, sou seca, acabo, termino. Termino nos outros pra recomeçar sempre em mim. Você não soube? Os boatos são esses, não mentem. Não que  tivesse que dar ouvidos a boatos, se minha boca tava sempre no seu ouvido sussurrando todas as verdades mais óbvias que você exigia com repetição. Era como se ao ganhar vida em som, tudo ficasse mais forte, as abstrações ganhassem forma e você me ganhasse por inteira. Logo eu, que nunca quis ser de ninguém. Foi só vaidade de quem tá acostumado com a vitória constante? Não li as regras, não soube de instruções e fiz mal uso de nós. Eu queria ser feliz. Você queria o quê? Talvez seja só uma incompatibilidade absoluta. Porque chegando agora pra me pedir uma nova página em branco, eu só consigo pensar em mostrar todas as linhas que escrevi e joguei fora. Por que? Porque nossa história não dá certo, não deu, não dará. E, olha, nem sou capaz de entender essas suas urgências de agora. São necessidades demais praquele indiferente de ontem. Se sabe que não funcionamos, pra quê a insistência? É erro repetido, é rabisco que vai pro lixo. É tempo perdido e pra mim agora a contagem é regressiva. É claro que  a tempestade se converteu em brisa litorânea e aquele efeito não é hoje nada além de uma refrescância passageira. Não tem mais calor, não tem mais espera, não tem mais ritmo, não tem mais... Dá vontade de pegar a sua mão e mudar o rumo dos seus pés pra um caminho que não seja o meu. Quem diria que o meu sorriso seria tão nu e suas testas tão fincadas de preocupações? É por ser tão feliz sem que não quero tentar o “com”. É só uma impressão de fracasso que nos enlaça, que prende você a mim, que há muito ando solta. Sabe, de repente as rachaduras subiram as paredes, de repente um peso qualquer sentou no teto que, suponho eu, era de vidro, e os destroços nos soterraram. Apesar de umas conversas que pescam piabas magras de mares passados, sei que a água que corre agora é outra. O gato escaldado perdeu o medo da água fria e não quer desassossegos seus. Porque em rodeios você desdiz e fala tudo pela metade, só pra ter a confiança certeira de não cair em falso. Mas acho que você despencou, coração, e eu nem estive lá pra ver. Andava pelas esquinas perdidas ocupada demais sendo feliz. É só que quando eu joguei tudo pro alto você “re-veio” levantando os braços, tentando capturar uma sobra qualquer sem lembrar que nunca sobrevivemos de migalhas. Agora só sei que morreu em mim. E meu ceticismo não acredita em ressurreição.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Don't wait up



"Every once in a while you think about if you're gonna get yourself together, you should be happy just to be alive. And just because you just don't feel like coming home, don't mean that you'll never arrive. Yeah, I'm gonna have to move on."

[Jet]


Vai parecer uma espécie de pedido de sentimento pendente, uma loucura até razoável do tipo fica-não-vai-embora-preciso-de-você-amor. E não era bem isso que eu queria dizer, mas você sabe que eu sempre me engasgo numa vontade de contar verdades. Eu queria que soasse como um “Fica, vai… Já que não tem nada melhor pra fazer…”, mas aí meus dedos me traíram e escreveram um “Tentei sem. Não deu. Volta?”. Eu sei que você sabe que eu sei que você não merece essas coisas. Essas coisas, sabe? Essas vontades de nunca ir embora ou de sempre voltar. Essas infinitudes que me prenderam numa vez passada, ou voz, e hoje fazem reviver essas lembranças todas sobrenaturais.
E, ei, por que me chama de amor? Tá, tá. Sei, sim, sou seu amor de todas as vidas… Mas e se nem chegarmos até o fim dessa? Acho que nossa pretensão é uma ameaça. Ah, amor, não é pra ir embora… Ficar? Não, ficar não. Quero um intermediário, você consegue? Vou deixar um bilhete embaixo do tapete da sua porta, que você vai encontrar quando procurar a chave. Vou escrever assim “Nothing is ever lost”. Sabe por quê? Porque todas as vezes em que nos perdemos acabou sendo só mais uma chance reencontro. Nem sempre de braços abertos e sorrisos no rosto, uns de cabeça baixa e pés cansados. Uns encontros não marcados, uns desencontros brutos, duros. Mas reencontros. Inevitáveis. Será que seguramos o inevitável em nós? Em nós, laços. Enlaçamos o “nós”?
Você me diz as tipicidades com relógios de atraso e eu respondo com a indiferença de uma cansada que seguiu adiante. Teu calendário do ano passado não marcou os dias todos que se passaram enquanto eu não estive aí. Nem sei se você me lê. Não digo minhas palavras, mas eu-inteira, porque sou bem ilegível, desorganizações em linhas tortas. Sei também que suas tentativas recorrentes são só mais uma insistência num futuro que não tem futuro. Não tô discutindo, meu bem, sei que existimos ainda, sei que nossas peles regeneram e nossas vidas têm o dom da ressurreição. Mas amor que é amor quando é sobreposto por outro, não volta. E eu sobrepus o nosso quando quase amei no depois. Foi só um quase amor, eu sei, mas mesmo assim eu fui capaz de perceber todas as possibilidades… São muitas!
Você vai me ligar, vai cantar as mesmas músicas ressaltando os mesmos tons, vai me escrever sublinhando os mesmos trechos. Tudo isso porque eu te conheço mais do que jamais quis. Disse que não voltaria, e não voltei. Mas não sei quando, ou se, fui embora. Talvez eu tenha feito casa em nosso amor e a independência me custe.. Vou me soltando sem me afastar, vou sendo feliz emancipadamente, mas sem exílio. Minha terra natal ainda é nosso começo, só que viagens me atraem mais por hora, turismo quase aleatório.
São tantas outras peles, novos prazeres, terceiras vidas. Tenho, sim, quartas, quintas, sextas vidas. Tenho precisado de vidas em que você não seja par da mocinha que sou eu. Mocinha que vezenquando faz um papel às avessas de vilã, foge da polícia, dá golpes alternativos do baú, corrompe anjos em busca de duplas. São curiosidades, entende? Precisava -ou melhor, preciso - completar uma lista de vivências para, então, tentar começar a pensar em, quem sabe, dar uma chance pra isso de amor. Não necessariamente o nosso, e até preferivelmente não ele, mas qualquer coisa capaz de me fazer doer como ninguém tem conseguido. Não, não quero a dor, mas a felicidade tenho alcançado, mais que plenamente até. Só que ninguém tem sido capaz de me fazer triste como você fez. E isso também é amor. É chorar e logo depois ver a lágrima invadir a brecha de um sorriso, porque o amor morde e assopra. 
Sempre achei bonita essa noção de um amor pra vida inteira, mas a verdade é que é um conceito mágico demais pra ser real. E isso de ficar junto mesmo com amor alternativo só pode ser algum tipo de fundamento raso de quem não abriu mão ainda de certas utopias. Meu realismo não abarca mais esse tipo de coisa, então me deixa. Sei que quando eu te afasto o inverno é dos mais rigorosos, mas sempre haverão retornos pra germinar sorrisos numa primavera das mais bonitas. Afinal, sempre vi flores em você.

sábado, 21 de maio de 2011

Long gone and moved on


"It must have been love but it's over now. It must have been good but we lost it somehow. It must have been love but it's over now. It was all that I wanted, now I'm living without."

[Roxette]

Tu perguntas até quando perdura o meu silêncio e interroga sobre a duração do meu depois sem nem cogitar que minha ausência pode alcançar a eternidade que jamais conseguimos. Reclamas e insistes, e eu só queria te dizer que não tens esses direitos. Tens o direito de permanecer calado e és culpado até que se prove o contrário. Mas sabe o que aconteceu? Já foi provada tua culpa e mesmo assim optei pela absolvição. Pensei que podia, que conseguiria, mas não deu.

O disco parou e nossa música é ruído enjoativo que não me agrada os ouvidos. É como se a ressaca tivesse chegado atrasada e os efeitos do porre não precisassem de álcool pra se manifestar. Te tomei faz tempo, engoli tuas janelas falsas que me sopravam ventos pra aliviar mordidas no coração. Não consigo de outro jeito, desaprendi a relevar. Sei que “perdoei” nos ontens, mas as memórias não morreram, não consegui esquecer, calculei mal. Errei nas contas quando pensei que sabia, não sei. Finjo, convenço, minto com uma naturalidade que não permite constestações, mas não perdoei. E não vou.

Agora é tudo desordem e a dor cessou, cansei de nós. Meus “eus”, todos, negam teus “tus” cheios de retórica, vazios de ação. Fomos durante esses anos artistas numa constante corda bamba. Foi exigida de mim mais disciplina do que eu jamais pensei ter. Estudei, milimetricamente, os centímetros da espessura pra não despencarmos, e consegui. Mas, de repente, nossos desleixos coincidiram e BAM! Desequilíbrio. Desabamos e não tinha rede embaixo, tinha chão duro e realidade. Pra nós, supostos anjos um do outro, faltaram asas.

Então não vem com essa de perdão. Que Deus perdoe se quiser, mas eu, não. Agora me importo pouco e já não há compreensão, há indiferença. Lutei comigo mesma pra transcender meus conceitos de amor e alcançar o teu, mas continuo incapaz. É só me deixar no meu lugar, e meu lugar não é aí, não contigo. É cedo pra dizer que não voltamos nunca mais, mas é tarde demais pra voltar. Dessa vez é um cansaço que não impele raiva, mas desistência. Não um mal súbito, mas toda vez que nos perdemos assim morremos um pouco mais.

Foste tu quem me afastou ou fui eu que te repeli? Eu teria ficado até o fim. Só sei que nos vejo hoje nas chamas de uma fogueira alta. Queimando, queimando, queimando. Logo seremos cinzas. Cinzas de um amor cremado que sempre renegou seu próprio enterro, mas não foi capaz de evitar a morte. 

segunda-feira, 18 de abril de 2011

War of my life



"The smile that's on my mouth is hiding the words that don't come out. And all of my friends who think that I'm blessed, they don't know my head is a mess. No, they don't know who I really am and they don't know what I've been through like you do. And I was made for you..."

[Brandi Carlile]

Eu precisava te puxar, entre tropeços nessa água torrencial, pra te dizer do nosso lugar comum. Pra assumir que nunca desisti e jamais duvidei da nossa completude. O que fomos, tudo que somos, me é indiscutível. Ajusto-me à tua frequência. Sumo quando é no meu ritmo que embalamos, mas tu sabes me fazer voltar à dança. Aprendeste a me domesticar e meu bicho solto, então, se perde nas tuas florestas de cativeiro.
Então tu falas, porque sabes que me tem refém dos teus tons. Falas e me ganhas, já sabendo que sou troféu movediço, de fuga fácil, mas volta inegável. Sou eu o álbum da tua vida, é minha a foto em sépia restaurada que figura na capa. Sou teu passado translúcido que volta sempre, majestade do teu reino em ruínas. Tronos virão em sucessões incansáveis, mas a coroa é minha. Te pego pelas mãos, nos realizo nessa chuva, enlaço nossas fragilidades, reconstruo nossas imaginações.
Somos palavras de um vento que não despedaça, somos promessas quebradas de uma inocência impensadamente ingênua. Somos a respiração cansada, os pés calejados, os olhos marejados… Somos partes desgastadas de uma unidade invencível. 
Não, amor, não corre nesse chão deslizante que a rapidez é cilada. Vamos devagar, num compasso paralelo, alheios à essas rotações velozes demais. Não tenho pressa, não te apresso, só nos guardo o apreço. Caminho em passo lento pra ter tempo de relembrar que nem toda minha literatura foi capaz de nos evitar. Nem todas as bibliografias foram capazes de me preparar e fiquei assim, desarmada em campo de batalha, com uma rosa na mão em frente à esses disparos múltiplos.
Com pés nus sob um chão áspero, com olhos abertos nessa neblina cega, com braços vazios e abraços ausentes. Me guardo ainda aqui, em paz pra nossa guerra.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Off by heart



"I know I can't take one more step towards you, cause all that's waiting is regret. Don't you know I'm not your ghost anymore? You lost the love I loved the most. I hear you're asking all around If I am anywhere to be found. But I have grown too strong to ever fall back in your arms."

[Christina Perri] 

Você vem e me rasga com a tesoura de um adeus seco, simples. E eu aqui a me fingir completa nessa vastidão de orgulho. Eu permaneci aqui, na linha de chegada, mal sabendo que você não voltaria. Porque não demos adeus, eu sei, mas a partida foi definitiva e a sua volta, proibida. Andei uns passos trôpegos com um medo visível de despencar sem o pedaço que você acaba de me tirar, um desequilíbrio vergonhoso. Ainda que tricotada, integralmente luto contra o pedaço solto que insiste em querer você. Ouço sua felicidade e aterro minha desilusão, não era nada daquilo. Deduzi, preferindo a verdade laminada, não era nada daquilo... Você carrega sempre uma ternura forjada, uma carência fingida e eu aqui pensando que podia lhe completar com meu amor, lhe preencher com a minha solicitude. Era na sua verdade sem vigor que descansava minha insegurança. Eu quase cedi e você nem viu. Não viu minhas tentativas tortas de tentar fazer-me entender ainda que afundada em meio à tanto silêncio. Você não viu que minhas palavras cambaleavam frente aos seus olhos.
A minha vontade instantânea é de empacotar tanto sentimento embaralhado e jogar no mar que assiste a essa cena tão byroniana de amor fracassado e spleen. Pra que as ondas levem ou mesmo afoguem tanta vontade não correspondida, tanta prontidão em vão. Queria era dizer “Me leva, vou com você.”. Onde? Não perguntei. Não importava. Simplesmente arrumaria as malas e me mandaria pra me quebrar por aí pelo mundo, nessa vida bandida com você onde quer que fosse. Mas não foi suficiente e você não quis me levar. E agora, penso eu, nem mais quero ir, porque aprendi a pensar com a razão. E sinto como se eu tivesse deixado passar, frente a meus olhos, tantas provas inegáveis de que eu não era pra você. E não o que você precisava ou queria (para o inferno com tuas necessidades!), mas irrefutavelmente o que não merecia e nunca mereceu. Esquece o mérito, minha querida. Esquece o mérito que não é proporcional ao amor, não é sobre conveniências. Esquece o mérito e olha pro mar. Deixa naufragar, deixa passar, deixa a onda limpar. Sei que ainda me considera isca, não mais tão fácil, pro seu anzol, mas há muito mudei de águas. Mudei de águas e vejo tua sombra aflita pedindo por oxigênio. Mas não sou eu quem vai lhe dar. Não sou eu, deixo afogar.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Don't carry it all




"That part of me left yesterday, the heart of me is strong today."

[Justin Timberlake feat T.I.]

Me pergunto se tu não estás atado a um passado atrasado daqueles que enclausuram com dúvidas no estilo mais futuro do pretérito. Afinal, o que teria sido de nós se...? Parece irônico, mas enquanto na tua concepção a história tem lacunas e está ainda por se resolver; pra mim, os espaços foram preenchidos com o branco da tua ausência que agora não remete saudade alguma.
Amor exige coragem e a verdade é que fomos ambos covardes. Só que a tua negativa fantasiada enfeitou minhas ilusões que perduraram por mais tempo que o preescrito, mas jazem agora falecidas. Antes do fim, me resguardei pra morte não ser tão dolorosa. Como uma doente terminal, previ os sintomas e encarei o tempo de vida estabelecido. Lutanto contra a obviedade, desisti dos coquetéis e receitas e, ainda assim, doeu menos que o previsto. O benefício do pré-aviso. O efeito da anestesia foi prolongado, minha sensibilidade minimizada.
No fim das contas quase cantarolei "Celebração do Inútil Desejo", mas o silêncio me ganhou e não te presenteei palavras. O egoísmo é raiz de crescimento fácil e o regaste em mim. Implante involuntário que floresceu, frutificou. Foi com atraso que percebeste uma série de coisas, bem sei, mas minha pontualidade diz que nosso tempo é esgotado. 
Nunca pedi que fosse recíproco, mas teria aceitado as verdades que nunca foram pronunciadas nesse jogo unilateral. Chego até mesmo a enxergar uma utilidade nesse desejo de ontem que não o infiltra o hoje, já que não fui feita refém de um percurso que, sim, foi lindo, apesar de majoritariamente caminhado por dois passos apenas, os meus. O que ficou pra trás são rastros que não me pertencem, de um eu que não sou mais.

Ando sem retrovisor e hoje sei que te compreender me libertou.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

The space between



"You didn't know all the ways I loved you, no. So you took a chance and made other plans, but I bet you didn't think that they would come crashing down, no. [...] Now there's just no chance for you and me, there'll never be and don't it make you sad about it? Your bridges were burned and now it's your turn to cry. Cry me a river."


[Justin Timberlake]


- Não é que eu queira ir embora, mas já não consigo ficar.
- Eu preciso que tu fiques. Eu...
- Não. Não precisa. Coisas simples teriam bastado pra que eu ficasse, mas nada foi feito e não bastou.
- E se eu te disser tudo que tenho calado? Todas as palavras que esqueci de enviar? E se eu te disser que não posso presenciar o destino, ou o que quer que seja, falhar novamente?
- E se tu disseres as palavras que eu sempre quis escutar, vou dizer que as falaste tardiamente. Teus intentos serão compostos de esforços inúteis, porque já não preciso ouvir. E inutilidade maior que a de um monólogo não há.
- Lembra de quando eu te perguntei se teria que lutar sozinho para que tu ficasses? Luto de novo. Conserto, reparo, reinvento. Demorei, mas voltei. Me deixa tentar?
- Te deixo. Tô te deixando pela primeira vez, mas é a segunda que tu me perdes.
- Tu disseste que seríamos pra sempre. Eu te marquei em mim. Tu estás pronta pra ir, eu sei, mas pra mim isso não é o fim.
- Eu te marquei em mim também. Mas não na pele, além e mais irreversivelmente. Não sei onde começou isso que me nego a chamar de adeus, mas se parece muito com um. Tampouco sei se vai continuar. Mas das raízes que fomos um dia já não florescem belezas, não há quem regue.
- Nossa eternidade não pode se reduzir a um par de anos. Imaginei um "pra sempre" amplo, vasto... Eterno. Mas tu pareces preferir assistir a nossa morte à tentar ressurreição.
-  O que aconteceu foi que pulamos de um trampolim rumo à direções opostas e esse abismo é insustentável. Nos creía maiores, melhores, sagrados. E essa pequenez tem me nocauteado.
- Sei que falhei, sei que faltei. Mas ainda te guardo em mim. Não quero me tornar uma lembrança póstuma, não tô pronto pra ser enterrado. É uma agressão contra o que somos e sempre fomos.
- Não quero ter que presenciar outra ausência ainda mais ausente. Cansei. E a dimensão do meu cansaço é maior do que o teu entendimento admite. Dói, confesso. Mas já doeu mais e cedo já não doerá.
- Eu não vou te pedir nada, mas, se acaso tu perguntares: por ti não há o que eu não faça. Eu vou guardar inteira em mim essa casa que tu queres mandar pelos ares. Vou reconstruí-la em todos os detalhes intactos e implacáveis. Como um dia tu cantaste pra mim.
- Eu guardo em mim. Vou sempre guardar. Mas nossa exatidão não combina e nossos ponteiros se desencontram sempre, não tô mais disposta a esperar. E pode ser que realmente sejamos pra sempre, é só que hoje não tenho motivos pra acreditar.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

(We) I laugh indoors



"I've been walking in the same way as I did, missing out  the cracks in the pavement and tutting my heel and strutting my feet.
- Is there anything I can do for you dear? Is there anyone I can call?
-No and thank you, please, Madam, I ain't lost, just wandering
Are the wonders of my world."

[Adele]

Eu, outrora inabalável em minhas convicções, sinto a vulnerabilidade de estar sempre  à mercê de condições impostas por terceiros, quartos, quintos. Cresci mais do que queria num decorrer de tempo menor do que devia. Como uma fruta que alcança o estágio maduro prematuramente e sofre a dor da queda antes do previsto. Mas, ora, ultrapassei a linha de presságios, especulações. Submeto-me feliz à continuidade justamente por saber que doer é, sim, bonito. Pois não há sorriso mais belo que aquele que um dia foi sobreposto pela umidez de um chuvisco lacrimal, vezenquando temporal. Não há sorriso mais forte que aquele já derrotado, mas agora vencedor absoluto, premiado.  A liberdade de ser feliz sem resistência. De saber das tristezas, decepções, mentiras e, ainda assim, escolher por simplesmente sorrir. Se ser feliz em meio a brutais tragédias e apesar de tanto "apesar de" for crime, que me prendam então! Não sinto muito se essa felicidade simplória ofende. Meu álibi sou eu e não sei se outra testemunha seria capaz de declarar-me inocente. É que a minha percepção é alternativa, meu bom senso não se sente atraído por hipérboles ou memórias epicamente fantasiadas. Respeito minhas fraquezas e enalteço minha força, reconhecimento mínimo necessário. Pode ser que meu desapego fuja do script habitual, pode ser que meu silêncio seja um pote de insensatez nesse mundo de loucuras entoadas em alto falantes, pode ser que meu egoísmo seja pecado, mas já não me intimidam julgamentos. Sou salva vidas das minhas vidas e essa sentença é irrevogável. Já provei da desobediência de ultrapassar minhas fronteiras, da decepção de saber-me surda ante verdades indesejadas, cega frente a fatos incontestáveis. Já me soube tantas, hoje sei-me essa só, de agora. Mas continuo inúmeras. Uma cética-romântica-narcisista-desapegada-crítica-incomum-tiro-e-alvo que tropeça em pedras mínimas e escala montanhas intimidadoras desafiando as probabilidades. Não hesito, me desafio e descubro-me ainda incompleta de pedaços meus que estou ainda por achar. Não me apresso e nessa caçada sou minha presa. Espasmos de verdades me capturam, deixo-me apreender, aprender. Deram-me alta desse hospício universal e minhas ilegalidades são punidas em cárcere privado. Não, não sou lúcida, tampouco insana. Habito o abismo que separa rotulações e paira sobre o incorrompível entre contestações. Sou uma e só. Sou muitas, acompanhadas pelas muitas outras que moram em mim. Algo além da simples sintaxe, mergulho na semântica paralela e meu entendimento é único. Não peço cúmplices, mas tolerância. Respeito o mundo, os opostos, os negativos, os impunes, os ignorantes. Sou opositora-positiva-inocente-e-ainda-leiga. Peço reciprocidade: respeito, privacidade. Se minha paz não atormenta: passos pra trás, mãos ao alto, armas no chão. Bandeira branca, rendição.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Better than revenge



"Life's perfect, it ain't perfect if you don't know what the struggles for. Falling down ain't fallin down if you don't cry when you hit the floor. It's called the past cause i'm gettin past and I ain't nothing like I was before. You ought to see me now. Yes, I was burned, but I call it a lesson learned. Mistake overturned, so I call it a lesson learned. My soul has returned, so I call it a lesson learned. Another lesson learned."

[John Mayer & Alicia Keys]

A faca ressurge desrespeitando a quietude serena da cicatriz. A dor, já não mais sentida, ofende-se com a ousadia do ataque. Não bastou uma vez? O corte foi discreto em superfície, mas histérico em profundidade. Não houve anestesia ou analgésico, mas uma dor com olhos abertos e pele rasgada, sangue exposto e coração nas mãos. A faca, impensadamente impulsiva, avança pelas beiradas na tentativa de um novo corte, mas beira cócegas. A pele, agora renovada e mais forte, não se deixa romper. A cicatriz, agora imponente, dita as regras do jogo. E ganha, pela primeira vez. A vitória da revanche, a satisfação da vingança. Não que a faca sinta a derrota, de fato, mas perder é sempre bom pra quem tem como costume machucar. 
Podia ser a pele flexível e deixar-se sangrar de novo, mas a objeção é involuntária e a faca, velha conhecida; o sacrifício não valeria a pena. A cicatriz hoje é história, só história. Pode ser que lateje dia ou outro, mas nunca mais será ferida aberta. Tornou-se lembrança e não presença. Já não é a pele que rasga, mas a faca que entorta. Porque pele pode sim ser mais resistente que metal quando cobre um coração endurecido pelo tempo. Porque a pele tem a cicatriz como troféu de superação, enquanto a faca sai, afiada, numa luta vã contra tecidos invencíveis. Porque a pele é regenerada em futuro enquanto a faca entorta-se com o peso forte do passado. Porque a pele tem, agora, a faca em mãos.