
- De repente me deu vontade de cortar aqui isso que a gente tem.
- Cortar?
- Romper. Acabar.
- Entendo...
- Sinto que tenho contigo uma conexão falha, uma mensagem mal interpretada. Sinto que se parasse hoje, não faria falta. Não por falta de amor, por cansaço.
- Te cansei?
- Mais que isso. Me murchou. Tão simples...
- E se regar?
- Não são as pétalas, tá na raiz. Não te vejo mais florescendo em mim.
- Não me deixaria plantar de novo?
- Não é sobre flores. Não te deixaria enraizar de novo, sabe?
- Eu fui a praga do teu jardim?
- Não sei o que foste... Tampouco o que és. Mas precisei de vento e tu foste uma tempestade. Precisei do cabível e recebi em excesso negativo.
- Fui demais pra ti?
- Foi demais sim. Foi demais quando não devia e de menos quando necessitei. E não quero desmerecer tua companhia...
- Eu dei pra ti, de mim, o melhor. Acreditas?
- E o teu melhor é tão pouco pra mim. O teu melhor não me preenche mais.
- Tu me confundes...
- Não por querer. Mas tu me confundiste a tal ponto que eu já não sei o que é esse aperto e esse amor fugitivo. Não sei se foge de vez ou só diminui, devagarzinho.
- Não deixa. Por favor... Agora não... Agora dói...
- Agora te dói e tu não sabes o quanto já doeu em mim. Não sabe porque eu escolhi não falar, não te doí opcionalmente. Vês aí o quanto amei e o declínio em que tudo se encontra. Sinto como se pedaços outrora preenchidos por amor estivessem de repente mais leves. O amor emagreceu, voou, morreu? Não foi com essa força nem com essa fé que estiveste em mim todo esse tempo. E ao saber do vão entre minhas mãos, agora temes cair por entre elas. Foi segurança demais que eu te dei. Segurança quando devia ter-te feito perceber a sorte de ter-me ao teu lado desse jeito tão pra sempre.
- Então sê pra sempre?
- Pedir eternidade não funciona.
- O que funciona?
- Agora? Não sei mais...