
"Lay down your guns, too weak to run. Nothing can harm you here.
Your precious heart, broken and scarred. Somehow you made it through."
[Better Than Ezra]
Ei, volta! Volta aqui e me diz que não tem mais volta. Volta pra me dizer que entre tantas voltas nos perdemos nessa circunferência confusa que tem nos arrematado. Dá uma volta mais nesse nó que criamos e nos prendemos com força tamanha. Mais uma volta para assegurar o não desenlace, pra assegurar-me tua não-ida. Peço que vá, mas peço que voltes. Peço antes que voltes, depois que vá. Volta pra me dizer que, apesar de tanto amor, não tem mais volta, não tem mais jeito, não tem mais... Aperta o laço pra nos termos assim, numa proximidade irremediável, mas cautelosamente separadas por uma distância necessária. Porque perto assim, sinto que não vai funcionar. Perto assim sinto que teu nó me ata e a liberdade que eu quero ter voa pra longe e te amarra em mim. A minha liberdade te amarra em mim... Liberdade amarrar, já viste? Quando digo que o caso é sério, o acaso é sério... Vou chamar a polícia, o bombeiro, o médico. Vou chamar um gari que te limpe em mim, que varra teus restos que me sujam. Vou comprar um xarope que cure esse crime que se passa aqui e um colírio para ver melhor a possibilidade encantadora de cada novo convite que não me atrai e deixo passar. Vou chamar um qualquer capaz de me dizer que sou vítima de um homicídio doloso, vítima viva e isso não é o mais incrível. Sou além de vítima, testemunha, júri e sou juiz. Tu és o crime, és o réu. Um réu que, mesmo calado, anula minha sentença de prisão perpétua e persiste num sequestro leve, num furto indireto.
Volta, mas volta mesmo. Volta pra fechar a porta que deixei entreaberta enquanto te esperava voltar. Me diz que agora vai embora de vez, pra não voltar nunca mais e abre a janela pra minha falta de ar ser compensada pelo vento que vai invadir quando tu saíres. Invadir o vazio costumeiro que a tua ausência me traz. Quando tu saíres e me deixares tantos buracos, levando tantos cheios que eu costumo ter, vê se percebe que quando fechaste a porta, dessa vez dei-me ao trabalho de trancá-la. Dei-me ao trabalho porque te quero sempre perto, mas agora do outro lado, de outro jeito. Vais tentar usar a força bruta e arrombá-la ou a gentileza e pedir calmamente para que novamente entres, mas será pela janela que um intruso vai invadir e colonizar o teu espaço, nova metrópole. Sem mais voltas nesse laço já deveras apertado. Desenrola, desamarra, desfaz. Ainda que envolta nessa nossa desorganização, tento limpar-me e peço-te por uma ida, sem volta. Desembarque imediato.