quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

This Is The Beginning


“Open the boxes, unpack what you own. Hang up some posters and make this a home. Walk down the stairs and open the door, look at the things you’ve never seen before. This is the beginning of anything you want.”
[Boy]

Enclausurada numa penitenciária de liberdade extrema que não me atava a absolutamente nada. Algemas por ser avulsa, seria trágico se não fosse cômico. Avulso: arrancado à força, desligado do corpo ou da coleção de que fazia parte, desirmanado, solto. Presa por ser solta demais? É, presa por engano. Nunca me igualei àqueles xiita contra o amor, mesmo no meu período mais anti-romântico. Eram só memórias frescas demais e a primeira fase da negação e isolamento pós-luto, amor morre também
A teoria faz de tudo uma burocracia, mas pode-se dizer, apelando à conceitos leigos e um tanto quantos relativos, que a minha ficha criminal não é lá extensa. Nada que vá além de um pequeno furto de expectativas ou omissão de socorro à la "Summer - Tom", nunca tive paciência.
Sabe, nunca consegui fazer questão de miniaturas, mas em anos outros cheguei a querer que tudo fosse um resquício do passado. Procrastinei e reconsiderei a cada demonstração de vitalidade do que tive, mas seria respiração artificial, eu sabia. Não queria reinventar história, queria era inventar amor. Nos 16, fui primavera. Nos 17, inverno. Nos 18 e 19, verão. E agora, no outono dos 20, a história é outra.
Dobrei, rasguei, apaguei, contornei. Cansada de acumular, deixei tudo escorrer. Touché, acertei! Afinal nada é mais desagradável que o ceticismo absoluto, amargura não funciona desde o byronismo. Então fiz de mim quem acreditei merecer ser. Sem melancolia e também abrindo mão da razão que sempre me dominou. Quero sentar à margem e tocar na água. Ponta dos pés, pernas, mergulho, correnteza. Eis a sequência do perigo – e da felicidade - que a gente percorre, consciente ou não.
Nem foi preciso ir embora, só soube aprender quando não estar mais perto de tudo que ficou pra trás. Eu voltaria sim, se achasse que flashback de alegria fosse possível, mas hoje duvido da capacidade do passado de me fazer feliz. Não quero mais lembranças que sufoquem possibilidades. Não quero só começo e fim, quero durante.
Dizem que o vinho mais caro não serve quando a sede é de água, então o ontem deixa de servir se a vontade é de futuro. Escolho a loucura que é recomeçar por um bloco de notas já tendo à disposição uma biblioteca vasta de literatura clássica. Dessa vez vou investir num lançamento, prólogo contemporâneo, mas nada de ficção.

12 comentários:

  1. A sua literatura abriu as fechaduras da prisão sem barras de aço. Encarou as estações como temperaturas falsas e expulsões clichês existenciais das linhas de fogo.

    Claro, manteve a abstração em cada letrinha, mas agora respira alto os ares de quem mais viveu do que sobreviveu.

    Não dá pra aparecer na porta dessa sua casa e não arriscar o dedo na campainha. Não basta comtemplar, é preciso ver e ouvir. Os sentidos precisam dessa sensibilidade atemporal onde nada é necessariamente turvo e misterioso mas sim enlevado e apoteótico.

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  2. "cansada de acumular, deixei tudo escorrer." Força e coragem pra deixar esvair quando quer sufocar; é do que muitos precisam..Lindo,o lindo, lindo,com sempre. Te amo!

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  3. Uau!
    Sempre que venho aqui me surpreendo com o que tu escreves.
    E fico sem palavras, e quem perde nisso tudo é você porque não recebe um comentário a altura do seu texto.
    Ficou lindo, maravilhoso até!

    Beijos

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  4. Também preciso de um livro novo e real, o antigos já foram decorados por mim.
    "Dizem que o vinho mais caro não serve quando a sede é de água" adoro essa frase.

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  5. Fantástico minha amiga! Não me surpreende ser surpreendido novamente por você. Parabéns. Adorei o desfecho, sempre fico ansioso por bons desfechos... Um beijo

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  6. "um pequeno furto de expectativas ou omissão de socorro"

    Um dos melhores com certezaa!!! mtoo bom MESMO

    Parabenss

    http://www.luismacedo.com/textos/textos.php

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  7. Hoje posso dizer com alegria que este seu texto, principalmente o último parágrafo, se encaixa perfeitamente no meu hoje.
    Um beijo!!

    Flor

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  8. Pra que ler uma página já lida se tem tantas outras para serem lidas ainda?

    Chega de passado! Tenho dito isso pra mim todos os dias! rsrs' É hora de lançamento, e sem ficção!

    Adorei o seu post, garota! Muito bom.. primeira vez que venho no seu blog e gostei daqui. Voltarei outras vezes.

    Bjão! =*

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  9. Linda linda linda, sou muito tua fã, assumida sempre. Que delícia posts assim, que devoram a gente, trituram e tudo. Vivemos, machucamos e somos machucadas e aprendemos, selecionamos, nos prendemos e soltamos. E sim, é hora do passado dar tchau e a gente dar de cara com o futuro, sem olhar pra trás e acreditar que ontem nos fez mais feliz do que amanhã pode fazer. Que venham os romances contemporâneos e que haja durante, chega de começo e fim.
    Beijão

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  10. Bom voltar aqui e ver mais um texto intimista e intenso...gostei moça!

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  11. Guardei tuas palavras no meu coração porque, nos tempos que venho vivendo, nunca nada fez tão bem ao meu fim de noite como as tuas palavras. Gostei muito!

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