terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pedido ao tempo


"Terra que não pára de rodar, é tanta história esparramada pelo chão e em tanta vida amor valente é coisa rara. Ó, terra, não dispara, deixa em paz meu coração. O tempo passa e leva quase tudo, é o que separa o começo do fim. E vai deixando um cheiro de saudade que essa tal felicidade não tem dó de mim."

[Anna Luísa]


A noite de ontem ressurge em flashes e o único fato que me vem claro é que eu tento tanto em outros copos, em outros corpos, te deixar. Teu efeito é prolongado e aparentemente infindável. Ainda me embriaga e preciso abandonar o vício. Tuas doses tem se tornando uma violência contra minhas lembranças e essa dor não agrada nem mesmo meu masoquismo. Quero deixar-te ir, mas tu não queres ser deixado de mim, por mim, em mim.
O que eu precisaria dizer é que tu tens que ir embora agora porque já não suporto essa angústia do que não passou e persiste, latente em minhas palavras e no meu silêncio. O que eu precisaria dizer é que tu és, teoricamente, meu passado, mas figura inconvenientemente insistente no presente e isso dói. Eu vou soprando o machucado porque o vento contorna e dá a volta antes de aliviar e nessas voltas eu finjo que não sinto nada só porque gosto de ouvir minhas mentiras. O que eu precisaria falar é que ainda me assusta ter te guardado tão dentro e no fundo.
Se eu rezasse, rezaria. Se eu fosse de chorar, choraria. Se eu não fosse orgulhosa, admitiria. Se... Mas o se é condicional demais pra mim que preciso da urgência, é um caso de emergência. Mas e se eu não te amasse? E se? É tão vasto e ilimitado que ultrapassa e vai além, me consumindo.
Isso é tudo que eu precisaria dizer, mas também tudo que eu não suportaria escutar. Saindo da minha boca rumo a lugar nenhum fica tudo mais real, inevitável, e eu ando fugindo da realidade que é ainda guardar esse amor forte, invicto, intacto. Eu precisaria sim te dizer tanta, mas tanta coisa, que calo e repito em gritos, só pra mim, sobrepondo as vozes que contrariam: vai passar, eu sei que vai. Minha estação não quer sintonizar, minha música se recusa a parar de tocar, meu irreal não vai parar de fantasiar e minha negação não vai renunciar. Mas vai passar, eu sei que vai.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Everlasting love


"Oh, until the dawn it brings another day to sing about the magic that was you and me. Cause you and I both loved. What you and I spoke of and others just read of. Others only dreaming of, of the love, of the love that I loved."

[Jason Mraz]

Me diz... Me diz como explicar o que ninguém consegue entender? Eu tento falar e as palavras ficam mudas. Eu tento imaginar e os olhos ficam úmidos. Eu tento simplificar e é tudo tão complexo significativo. É que tu sempre foste o que me foge do entendimento, o que meu raciocínio não acompanha, o que me fascina e aconchega.
Minha parábola mais que oscilante. Eu sei, fugimos às regras. Não sei explicar e, ainda assim, tu sabes entender porque és o amor que quase nunca sinto e a eternidade que nunca questiono.
Por que esse amor todo assim em mim? Parece ironia, brincadeira. Parece um desafio sentir algo tão grande e saber como administrar. Eu que espalho minha felicidade por aí e não sei me encontrar em quase nenhum lugar. Eu que emudeço em silêncio e calo minhas feridas no mais fundo de cada lágrima que quase nunca cai. Choro, esperneio, grito, rebelo. Faço tudo em silêncio, é uma confusão aqui dentro, tu sabes. E sinto que ouves meu barulho, escutas minhas guerras.
E sabe o que eu começo a pensar? Que eu não sei amar. Não sei, não... Naquela minha velha mania de extremos, eu te amo além do que enxergo, escrevo, narro, até do que sinto. Não sei o que fazer com tanto-tudo e então faço essas tortuosidades, vou cometendo uns erros vazios. Fico assim: como uma criança perdida em loja de departamento entre tantos setores distintos, é tanta cor! Me perco entre cabides, placas, luzes, mas não demoro, me encontro. Volto. Volto pra ti porque encontro minha casa, onde tá meu coração. Pelos dias em que eu fui por tempo demais e o medo te tomou, peço desculpas. As crianças gostam mesmo de correr por aí, soltas demais, mas cansam. Cansam sempre e é necessário ter uma casa para qual retornar.
Se fico parada diante das nossas mudanças é pela tranquilidade que nossa certeza me dá, por ter paciência e saber esperar os meus, teus, nossos momentos nos tempos em que eles vêm sempre. Adquiri a calma necessária e só quero te ver feliz, nos ver feliz, no caminho que for e eles se entrelaçam sempre que eu sei.