"Terra que não pára de rodar, é tanta história esparramada pelo chão e em tanta vida amor valente é coisa rara. Ó, terra, não dispara, deixa em paz meu coração. O tempo passa e leva quase tudo, é o que separa o começo do fim. E vai deixando um cheiro de saudade que essa tal felicidade não tem dó de mim."
[Anna Luísa]
A noite de ontem ressurge em flashes e o único fato que me vem claro é que eu tento tanto em outros copos, em outros corpos, te deixar. Teu efeito é prolongado e aparentemente infindável. Ainda me embriaga e preciso abandonar o vício. Tuas doses tem se tornando uma violência contra minhas lembranças e essa dor não agrada nem mesmo meu masoquismo. Quero deixar-te ir, mas tu não queres ser deixado de mim, por mim, em mim.
O que eu precisaria dizer é que tu tens que ir embora agora porque já não suporto essa angústia do que não passou e persiste, latente em minhas palavras e no meu silêncio. O que eu precisaria dizer é que tu és, teoricamente, meu passado, mas figura inconvenientemente insistente no presente e isso dói. Eu vou soprando o machucado porque o vento contorna e dá a volta antes de aliviar e nessas voltas eu finjo que não sinto nada só porque gosto de ouvir minhas mentiras. O que eu precisaria falar é que ainda me assusta ter te guardado tão dentro e no fundo.
Se eu rezasse, rezaria. Se eu fosse de chorar, choraria. Se eu não fosse orgulhosa, admitiria. Se... Mas o se é condicional demais pra mim que preciso da urgência, é um caso de emergência. Mas e se eu não te amasse? E se? É tão vasto e ilimitado que ultrapassa e vai além, me consumindo.
Isso é tudo que eu precisaria dizer, mas também tudo que eu não suportaria escutar. Saindo da minha boca rumo a lugar nenhum fica tudo mais real, inevitável, e eu ando fugindo da realidade que é ainda guardar esse amor forte, invicto, intacto. Eu precisaria sim te dizer tanta, mas tanta coisa, que calo e repito em gritos, só pra mim, sobrepondo as vozes que contrariam: vai passar, eu sei que vai. Minha estação não quer sintonizar, minha música se recusa a parar de tocar, meu irreal não vai parar de fantasiar e minha negação não vai renunciar. Mas vai passar, eu sei que vai.